Escrito na Água
O que levará o ainda primeiro-ministro a andar 24 horas por dia com uma unidade de cuidados intensivos com ele - o que apenas se poderia justificar em deslocações ao estrangeiro. Ora Santana Lopes, sempre mimado e caprichoso, desde Setembro que se apropriou deste equipamento. Previa um ano difícil? Sentia o chão - isto é, o Governo - a fugir-lhe debaixo dos pés? O mais curioso é lermos as declarações de um dos seus médicos, o conceituado especialista no combate à droga, como devem estar lembrados, Manuel Pinto Coelho, que estão, na equipa do primeiro-ministro, a pensar em comprar um equipamento "mais leve". Percebe-se que este é muito pesado e sobrecarrega os carros dos seguranças (que têm a peculiaridade de aparecerem nas comitivas como "não identificados" - e por que não usar máscaras para não darem nas vistas?). Mas que delírio alucinatório leva a que se pense em comprar outro equipamento "mais leve" - com o nosso dinheiro de contribuintes? Será para aguentar sem desfalecimentos a noite da derrota?
Neste momento o que se verifica, numa patética inversão que explica muita coisa, incluindo o equipamento do INEM, é que Santana Lopes desce vertiginosamente e que Paulo Portas sobe. Paulo Portas tem um ar feliz. Não está amuado, está nas suas sete quintas, comete erros por excesso de demagogia (como a questão com os banqueiros), mas não consegue esconder este permanente enunciado que o atravessa de alto a baixo: "Desta já me safei". É verdade que se safou. Conseguiu demarcar-se da série de dislates com que o Governo se ia demolindo dia após dia. Conseguiu ser um bom ministro da Defesa. E conseguiu dar a imagem de que os ministros CDS eram excelentes e tinham uma ética diferente na política - apesar do desastre de Celeste Cardona, do nascimento ainda imperfeito de Telmo Correia e do final catastrófico de um Bagão Félix que há bem pouco tempo parecia mais rigoroso e seguro de si. Pois apesar de estar na coligação descoligada, Paulo Portas consegue subir levemente nas sondagens, certamente por contraste com Santana Lopes.
Quanto a este, carregando um ar de amuo que o leva a falar do agravo que sofreu em tudo quanto é sítio, incluindo no estrangeiro, e depois de se ter feito constar que teve um daqueles momentos de patriotismo egocêntrico e pensou em abandonar tudo, e deixar o Governo à deriva (talvez funcionasse melhor...), a grande interrogação para mim continua a ser: que levou Durão Barroso, um homem inteligente e com sentido de Estado, a decidir dar a Santana Lopes os destinos do Governo? Que lhe passou pela cabeça? Ninguém o conhecia melhor em termos de saber as suas limitações. Dizem-me dois astrólogos que o problema de Santana é bem simples de explicar: ele tem todos os signos em água, e isso faz que se defina pela inconsistência e que abandone sempre a meio o que estava a fazer, e mude de opinião todos os dias. Sempre foi assim em todo o lado, mas desta vez deu mais nas vistas. Tendo a mobilidade instável e infixável da água, Santana Lopes continua a ser a criança mimada que transforma o lago em pântano. Veio dar involuntariamente razão a Guterres: estamos no pântano, pior do que nunca.
Neste momento o que se verifica, numa patética inversão que explica muita coisa, incluindo o equipamento do INEM, é que Santana Lopes desce vertiginosamente e que Paulo Portas sobe. Paulo Portas tem um ar feliz. Não está amuado, está nas suas sete quintas, comete erros por excesso de demagogia (como a questão com os banqueiros), mas não consegue esconder este permanente enunciado que o atravessa de alto a baixo: "Desta já me safei". É verdade que se safou. Conseguiu demarcar-se da série de dislates com que o Governo se ia demolindo dia após dia. Conseguiu ser um bom ministro da Defesa. E conseguiu dar a imagem de que os ministros CDS eram excelentes e tinham uma ética diferente na política - apesar do desastre de Celeste Cardona, do nascimento ainda imperfeito de Telmo Correia e do final catastrófico de um Bagão Félix que há bem pouco tempo parecia mais rigoroso e seguro de si. Pois apesar de estar na coligação descoligada, Paulo Portas consegue subir levemente nas sondagens, certamente por contraste com Santana Lopes.
Quanto a este, carregando um ar de amuo que o leva a falar do agravo que sofreu em tudo quanto é sítio, incluindo no estrangeiro, e depois de se ter feito constar que teve um daqueles momentos de patriotismo egocêntrico e pensou em abandonar tudo, e deixar o Governo à deriva (talvez funcionasse melhor...), a grande interrogação para mim continua a ser: que levou Durão Barroso, um homem inteligente e com sentido de Estado, a decidir dar a Santana Lopes os destinos do Governo? Que lhe passou pela cabeça? Ninguém o conhecia melhor em termos de saber as suas limitações. Dizem-me dois astrólogos que o problema de Santana é bem simples de explicar: ele tem todos os signos em água, e isso faz que se defina pela inconsistência e que abandone sempre a meio o que estava a fazer, e mude de opinião todos os dias. Sempre foi assim em todo o lado, mas desta vez deu mais nas vistas. Tendo a mobilidade instável e infixável da água, Santana Lopes continua a ser a criança mimada que transforma o lago em pântano. Veio dar involuntariamente razão a Guterres: estamos no pântano, pior do que nunca.
COELHO, Eduardo Prado, "Escrito na Água", Público, 20 de Dezembro de 2004.
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