A MORDER OS CALCANHARES DO PODER

sábado, julho 30, 2005

PROVÉRBIOS

"Nova Iorque, Madrid, Londres: o terrorismo ataca novamente.


Este foi o principal título de muitos diários mundiais, na edição que informou acerca das explosões que sacudiram a capital inglesa. Reveladora coincidência: não mencionaram o Afeganistão nem o Iraque. Os bombardeamentos contra o Afeganistão e o Iraque, não foram, não continuam a ser, atentados terroristas, que no caso deste último se repetem dia após dia? Não é sempre ou quase sempre, a classe trabalhadora quem fornece os mortos nos atentados e nas guerras? Não merecem o mesmo respeito e a mesma compaixão as vítimas de qualquer expressão de desprezo pela vida humana? Sem darem por isso, não menos de três mil camponeses foram despedaçados pelas bombas que procuraram e não encontraram Bin Laden em terras afegãs. E não menos de 25 mil civis, muitos deles mulheres e crianças, foram despedaçados pelas bombas que procuraram e não encontraram as armas de destruição massiva no Iraque, e pelo banho de sangue que a ocupação estrangeira do país continua a provocar. Se o Iraque tivesse invadido os Estados Unidos, anormalidade que não passa pela cabeça de ninguém, as vítimas civis seriam, em proporção, trezentos mil norte-americanos. Por séculos e séculos, ressoariam pelo mundo os trovões de semelhante horror. Como os mortos são iraquianos, rapidamente se convertem em costume.


Em 1776, a Declaração de Independência dos Estados Unidos, afirmou que todos os homens são criados iguais, mas pouquinhos anos depois, aclarou o conceito: estabeleceu que nos censos da população, cada negro equivalia a três quintas partes de uma pessoa. A quantas partes ou pedacinhos de uma pessoa equivale, hoje em dia, um iraquiano?

“Uns são mais iguais do que outros”, dizem que dizem.


E dizem: “Outros virão, que bom te farão”. O terror de Estado, pai fecundo de todos os terrorismos, encontra álibis perfeitos nos terrorismos que gera. Derrama lágrimas de crocodilo cada vez que a merda vai de encontro ao ventilador, e simula inocência ante as consequências dos seus próprios actos. Mas não têm de que se queixar os donos do mundo: as atrocidades que os fanáticos e os loucos cometem, brindam-nos com justificação e oferecem-lhes impunidade.

“A mentira tem pernas curtas”. Está à vista: a mentira tem pernas compridíssimas. Tão compridas, que correm a muito maior velocidade do que os desmentidos dos mentirosos.


Após gritarem ‘aos quatro ventos ’ que o Iraque era um perigo para a Humanidade, Bush e Blair admitiram publicamente que o país que haviam invadido e aniquilado não possuía armas de destruição massiva. Nas eleições seguintes, nos Estados unidos e na Grã-Bretanha , o povo recompensou-os reelegendo-os.


”O crime não compensa”: já nem os provérbios sabem o que dizem. O mundo gasta nada mais nada menos que 2.200 milhões de dólares por dia, sim por dia, na indústria militar, indústria da morte, e dia após dia a cifra aumenta e aumenta. As guerras necessitam de armas, as armas necessitam de guerras e as guerras e as armas necessitam de inimigos.

Não há negócio mais lucrativo do que o assassinato praticado à escala industrial . A sua indústria derivada, a indústria do medo, consagrada ao fabrico de inimigos é, hoje em dia, a principal fonte de lucros das empresas dedicadas ao entretenimento e à comunicação. Em Hollywood, já não há filme que não expluda, e os seus guionistas acrescentam sustos ao susto: como se fosse pouco o pânico terrestre, acrescentam-lhe as ameaças de terror importado de outros planetas.- - -A indústria militar necessita de produzir medo para justificar a sua existência. Perverso circuito: o mundo converte-se num matadouro que se converte num manicómio que se converte num matadouro que…
O Iraque, país bombardeado, humilhado, é a escola do crime mais activa nos nossos dias. Os seus invasores, que dizer ser libertadores, montaram ali o mais fértil viveiro de terroristas, que se alimentam da desesperança e do desespero.



“Deus ajuda aquele que madruga”. Madrugam os chefes guerreiros? Madrugam os banqueiros de sucesso? Na realidade, o provérbio exorta os humildes trabalhadores a levantarem-se cedo, e provém dos tempos em que trabalhar rendia.
Mas no mundo actual, o trabalho vale menos do que o lixo.

Dos dois motores do sistema universal de poder, este sistema que se chamava capitalismo na minha infância, já só funciona um. O estímulo da cobiça desapareceu pelo menos para a mão-de-obra. Já ninguém tem a mais remota esperança de enriquecer a trabalhar. Agora, os motores são o medo e o medo: medo de perder o emprego, medo de não encontrar emprego, medo da fome, medo do desamparo.

Os sindicatos, defendiam os trabalhadores em tempos que agora parecem pré-históricos. As empresas multinacionais mais famosas – Walmart e McDonald’s – negam sem a menor dissimulação o direito de associação aos trabalhadores e põem na rua quem cometa a ousadia de o tentar. Aos organismos internacionais que velam pelos direitos humanos, esta escandalosa violação não lhes mexe um cabelo; e o exemplo propaga-se. A negação dos sindicatos, ou a sua proibição pura e simples, começa a ser normal.

O sindicalismo, fruto de dois séculos de lutas operárias, está em crise por todo o mundo, como estão em crise todos os instrumentos de defesa colectiva e pacífica das pessoas que vivem do seu trabalho, e que agora, deixadas cada uma à sua sorte, sobrevivem obrigadas a aceitar, sim ou sim, o que os empregadores exigem: o dobro das horas de trabalho a troco de metade do salário

Os sindicatos, debilitados, perseguidos, pouco podem ajudar, e Deus tem, ao que parece, outras ocupações. O presidente Bush dele necessita dia e noite: o seu projecto de conquista do planeta é uma missão divina, e Deus guia-lhe os passos. Como se comunicam? Por mail?, por fax?, por telefone?, por telepatia? Segredo de Estado…

“As armas carrega-as o Diabo”. Este provérbio não se engana. Deus não pode ser tão lixado. Tem que ser o Diabo aquele que carrega as armas, ou pelo menos as armas de destruição massiva, as verdadeiras, as que o Iraque não possuía, as que estão a rebentar com o mundo: os bombardeamentos de mentiras das fábricas de opinião pública; as armas químicas da sociedade de consumo que enlouquecem o clima e apodrecem o ar; os gases venenosos das fábricas de medo, que nos obrigam a aceitar o inaceitável e que convertem a indignidade em fatalidade do destino; a mortífera impunidade dos assassinos em série elevados à categoria de Chefes de Estado; e as facas de dois gumes das grandes potências que multiplicam, simultaneamente, a pobreza e os discursos contra a pobreza e ao mesmo tempo vendem minas anti-pessoais e próteses ortopédicas, e que a partir dos céus descarregam mísseis e contratos de reconstrução sobre os países que aniquilam."


GALEANO, Eduardo, "Refranes",
Rebelión , 21 de Julho de 2005.

Imagem: Salvador Dalí,"Criança Geopolítica Observando o Nascimento do Homem Novo",1943.

quinta-feira, julho 28, 2005

A MINORIA PRÓSPERA E A MULTIDÃO INQUIETA VIII




SOCIALIZAM-SE AS PERDAS.
A INDECÊNCIA CONTINUA DIA APÓS DIA!

quarta-feira, julho 27, 2005

Os Senhores da Guerra

Hoje, ao deparar-me com a notícia que abaixo vos deixo, e tendo em conta que a empresa em causa é o maior fornecedor do exército norte-americano, não pude deixar de a ligar imediatamente ao estado actual do mundo no que a conflitos militares diz respeito.
Àqueles que prestem o mínimo de atenção às manobras que se urdem nos bastidores da política mundial, a dita não surpreenderá por absoluto, quanto aos outros, basta que juntem 1+1.

Todavia, nunca será demais observar a relação intrínseca que se estabelece entre estes dois elementos: Guerra e Lucros.



"Lockheed Martin sobe lucro trimestral 56%:

O lucro do grupo de aeronáutica, tecnologia e sistemas electrónicos Lockheed Martin, o maior fornecedor do exército norte-americano, subiu 56% no segundo trimestre, a beneficiar do aumento das vendas."






(Este Quadro foi gentilmente surripiado ao CITADINO , pelo que lhe deixo aqui o meu público agradecimento)

RECOMENDO

Visitas regulares a estes dois EXCELENTES BLOGS, que vão já direitinhos para a lista ali ao lado.


CITADINO

&

SOCIOCRACIA


ELE QUER!!!




e também...

"Rumsfeld quer rápida aprovação da constituição:

Donald Rumsfeld fez mais uma visita surpresa a Bagdad, onde aproveitou para apelar à rápida aprovação da constituição do país."

Ah... pois...é a crise, ou será a retoma?

Que interessante esta descrição: "os portugueses"!
Apetece perguntar: quantos é que são mesmo? Ainda gostava de ver esse valor revelado um destes dias.

Os lóbis em acção

"BPI diz que Ota e TGV podem ser bons negócios para o banco: Presidente do banco não comenta bondade das obras para Portugal:


"O TGV e o aeroporto da Ota podem ser excelentes negócios para o BPI e estaremos, naturalmente, atentos a isso», afirmou Fernando Ulrich."




Se dúvidas houvesse, no que concerne a saber para quem "governam" estes políticos que temos, eis um bom exemplo que ajuda a desmistificar a questão.

Num período de grave crise económica para as famílias portuguesas, estes pseudo-socialistas pretendem, agora,(à semelhança do que aconteceu com os gastos sumptuosos feitos com os estádios do Euro 2004- que mais não fizeram do que encher os bolsos a uma série de lóbis- encontrando-se aqueles na sua maioria literalmente 'às moscas' e nos quais se enterraram centenas de milhões de euros) realizar mais umas obras faraónicas ao pior estilo do parolo novo-riquismo que impera neste desgraçado país e que beneficiam primordialmente os gosmas habituais.

Não deixa de ser curioso observar os arautos da aniquilação do Estado e profetas do 'Deus Mercado Regulador de Todas as Coisas',já gostarem daquele quando lhes cheira ao vil metal.

O ar neste canto da Europa, começa a ficar verdadeiramente irrespirável.

P.S. ao recusar comentar a "bondade das obras para Portugal", este tal de Ulrich demonstra bem o desprezo e indiferença que sente em relação ao país - a única coisa que o move, efectivamente, é a busca desmesurada de lucros, estando positivamente a 'borrifar-se' para o Bem Comum. Estes gajos já nem sequer disfarçam!

A MINORIA PRÓSPERA E A MULTIDÃO INQUIETA VII






PRIVATIZAM-SE OS LUCROS...

"Lucros da Brisa aumentam 10,2%:

Os resultados líquidos da Brisa cresceram 10,2% no primeiro semestre deste ano, atingindo os 106,7 milhões de euros"





"Lucros da Somague crescem mais de sete vezes, para os 24 milhões de euros"



"Lucro líquido da Sonaecom deverá situar-se nos 6,2 milhões de euros"



"Lucros do grupo Media Capital crescem 113% no 1.º semestre"



"Lucro da Gas Natural sobe 12% no 2º trimestre: O resultado líquido cresceu para 129,8 milhões de euros."



"Lucro da Celbi aumentou 70% em 2004 graças a resultados extraordinários, para 19,2 milhões de euros"



"BBVA regista «melhor semestre» de sempre em Portugal:

Os lucros do Banco Bilbao Vizcaya Argentaria (BBVA) em Portugal cresceram 45% para os 6,7 milhões de euros"




"O valor total dos activos geridos em Portugal por sociedades gestoras de patrimónios, de fundos de investimento e de fundos de titularização cresceram 23% no 2º trimestre deste ano para os 77.086,6 milhões de euros"



SOCIALIZAM-SE AS PERDAS...


"Trabalhadores com salário mínimo disparam 50%:

O número de trabalhadores por conta de outrem que recebem o salário mínimo nacional disparou 50% em um ano e meio, noticia o «Jornal de Negócios.»
Em contrate com os salários dos administradores das empresas."



"Quase meio milhão sem trabalho"


"Telefone fixo custa mais do dobro em Portugal do que na UE e acesso à Internet custa cinco vezes mais"



"Portugueses evitam o dentista: Preços da medicina dentária afastam 30% das pessoas das consultas de rotina"

A bela figurinha do Cherne



Artigo do "Financial Times" arrasa liderança de Durão Barroso na Comissão Europeia:

"Um espectáculo de terror político"




Aquele que ficou célebre entre nós, pelo famoso "Discurso da Tanga", após o qual fugiu cobardemente para Bruxelas demitindo-se dos compromissos que havia tomado, e que segundo alguns iluminados cá do burgo iria prestigiar muitíssimo Portugal com a sua presença entre os burocratas europeus e blá, blá, blá, é agora literalmente desmascarado num artigo publicado no Financial Times.

O artigo em causa, refere-se a este indivíduo com alguns mimos dignos de nota. Vejamos:

Apelidando-o de "figura remota" que "não conseguiu dominar a máquina de Bruxelas" e referindo que "as críticas à liderança de Barroso partem também do Parlamento Europeu e do interior da sua própria equipa", traça o seguinte cenário:


"Depois de classificar os 12 meses da presidência Barroso como "um espectáculo de terror político", o artigo do "Financial Times" descreve algumas das situações que considera mais demonstrativas da alegada falta de liderança do ex-primeiro-ministro português: a escolha do italiano Rocco Buttiglione para comissário da Justiça; as suas férias a bordo do iate do milionário grego Spiros Latsis; e a posição em relação ao resultado dos referendos sobre a Constituição europeia em França e na Holanda"


Realmente este é um cartão de visita brilhante e prestigiante.

Se nós por cá, já sabiamos do que era capaz este senhor, chegou agora a vez de a Europa ficar a conhecer em profundidade a incompetência da personagem.

Agora, esperemos que fiquem lá com ele, pois refugo já cá temos que baste e "aqui não se aceitam trocas".



O artigo original encontra-se Aqui

quinta-feira, julho 21, 2005

A MINORIA PRÓSPERA E A MULTIDÃO INQUIETA VI

quarta-feira, julho 20, 2005

'Danos Colaterais'

"Iraque: 25 mil civis mortos desde início da guerra, em 2003.


Cerca de 25 mil civis morreram violentamente desde o começo da guerra contra o Iraque, em Março de 2003, e 37% perderam a vida às mãos da coligação dirigida pelos Estados Unidos, indica um novo estudo divulgado esta terça-feira, que revê em baixa números divulgados em Outubro por outra entidade."




Recordar, para não esquecer

"Só há liberdade a sério quando houver
a paz o pão
habitação
saúde educação
só há liberdade a sério quando houver
liberdade de mudar e decidir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir "


GODINHO, Sérgio,"Liberdade" Disco 'À queima roupa", 1974.

Democracia "a la carte"...

F.D.P.

"Presidente do BPI defende:

Ordenados em Portugal devem baixar 10%"



A falta de decência desta gente, já não conhece quaisquer limites.
Tive oportunidade de ouvir hoje este sujeito na SIC notícias a acrescentar ainda que se deveriam criar mais impostos e aumentar os já existentes.

O asco que sinto por esta gentalha é pura e simplesmente indescritível!

Sacrifícios??? Isso é só para o povinho...


Embora tenham apresentado estes lucros pornográficos na ordem de, pasme-se, 302 milhões de euros, há a referir que estes senhores procederam ao despedimento de MIL PESSOAS !!!
Que merda de país é este?
Que governo dos poderosos nos rege?
Que legitimidade têm estes palhaços destes governantes para pedir mais sacrifícios aos trabalhadores?
Não há ninguém que ponha mão nestes chulos?

sábado, julho 16, 2005

Cada vez melhor...

"Desemprego registado pelo IEFP sobe 4,7% em Junho"

Pagam os do costume...

"FMI pede novas medidas de contenção:

Fundo desconfia das previsões de Lisboa e diz que saída da crise é extremamente difícil"


As crianças.

"Dia após dia, nega-se às crianças o direito a serem crianças. Os factos, que troçam deste direito, ministram os seus ensinamentos na vida quotidiana.O mundo trata os meninos ricos como se fossem dinheiro, para que se habituem a agir como age o dinheiro.O mundo trata os meninos pobres como se fossem lixo, para que se transformem em lixo.E aos do meio, aos meninos que não são nem ricos nem pobres, têm-nos atados aos pés do televisor, para que desde muito cedo aceitem, como destino, a vida prisioneira.Muita magia e muita sorte têm as crianças que conseguem ser crianças.


As crianças ricas

No oceano do desamparo, erguem-se ilhas de privilégio. São luxuosos campos de concentração, onde os poderosos se encontram com os poderosos e nunca podem esquecer, nem por um momento, que são poderosos. Em algumas das grandes cidades latino-americanas, os raptos tornaram-se hábito e as crianças ricas crescem encerradas dentro da bolha do medo. Habitam mansões amuralhadas, grandes casas ou grupos de casas rodeadas de cercas electrificadas e de guardas armados, e são vigiadas dia e noite pelos guarda-costas e pelas câmaras e circuitos fechados de segurança. As crianças ricas viajam, tal como o dinheiro, em veículos blindados. Descobrem o metropolitano em Paris ou em Nova Iorque, mas nunca o usam em São Paulo ou na capital do México.Elas não vivem nas cidades onde vivem. Está-lhes vedado esse vasto inferno que ameaça o seu minúsculo céu privado. Para além das fronteiras, estende-se uma região de terror onde as pessoas são muitas, feias, sujas e invejosas. Em plena era da globalização, as crianças já não pertencem a lugar algum, mas as que menos lugar têm são as que mais coisas têm: crescem sem raízes, despojadas de identidade cultural e sem mais sentido social do que a certeza de que a realidade é um perigo. A sua pátria está nas marcas de prestígio universal que distinguem as suas roupas e tudo aquilo que usam, e a sua linguagem é a linguagem dos códigos electrónicos internacionais. Nas mais diversas cidades e nos mais distantes lugares do mundo, os filhos dos privilegiados parecem-se entre si, em costumes e tendências, como se parecem entre si os ‘shoping centers’ e os aeroportos, que se encontram fora do tempo e do espaço. Educados na realidade virtual, são deseducados na ignorância da realidade real, que apenas existe para ser temida ou comprada.‘Fast food, fast cars, fast life’: desde que nascem, as crianças ricas são treinadas para o consumo e para a fugacidade e passam a infância a provar que as máquinas são mais dignas de confiança do que as pessoas. Quando chegar o momento do ritual de iniciação, ser-lhes-á oferecida a primeira armadura todo-o-terreno, com tracção às quatro rodas. Durante os anos de espera, lançam-se a toda a velocidade nas auto-estradas cibernéticas e confirmam a sai identidade devorando imagens e mercadorias, fazendo ‘zapping’ e fazendo ‘shopping’. As ciber-crianças navegam pelo ciberespaço com o mesmo à-vontade com que as crianças abandonadas deambulam pelas ruas das cidades.


As crianças pobres


Muito antes de as crianças ricas deixarem de ser crianças e descobrirem as drogas que atordoam a solidão e mascaram o medo, já as crianças pobres inalam gasolina ou cola. Enquanto as crianças ricas brincam às guerras com balas de raios laser, já as balas de chumbo ameaçam os meninos de rua.Na América Latina, as crianças e os adolescentes constituem quase metade da população total. Metade dessa metade vive na miséria. Sobreviventes: na América Latina morrem, por hora, cem crianças de fome ou de doença curável, mas há cada vez mais crianças pobres nas ruas e nos campos desta região que fabrica pobres e proíbe a pobreza. São crianças a maioria de todos os pobres; e são pobres, maioritariamente, as crianças. E, de todos os reféns do sistema, são as crianças as que vivem pior. A sociedade espreme-as, vigia-as castiga-as e às vezes mata-as: quase nunca as ouve, nunca as compreende.Estas crianças, filhas de pessoas que trabalham temporariamente e que não têm trabalho nem lugar no mundo, são obrigadas, desde muito cedo, a viver ao serviço de qualquer actividade de ganha-pão, esmifrando-se em troca de comida ou de pouco mais, a todo o comprimento e a toda a largura do mapa do mundo. Depois de aprender a caminhar, aprendem quais as recompensas que se dão aos pobres que se portam bem: eles, e elas, são a mão-de-obra gratuita das oficinas, das lojas e das cantinas caseiras, ou são a mão-de-obra ao preço da chuva das indústrias de exportação que fabricam roupa desportiva para as grandes empresas multinacionais. Trabalham nas fainas agrícolas ou nas distribuições urbanas, ou trabalham em casa ao serviço de quem aí mandar. São pequenos escravos ou escravas da economia familiar ou do ‘sector informal’ da economia globalizada, onde ocupam o mais baixo escalão da população activa ao serviço do mercado mundial:- nas lixeiras da Cidade do México, Manila ou Lagos, juntam vidros, latas e papéis, e disputam os restos de comida com os abutres;- mergulham no mar de Java à procura de pérolas;Procuram diamantes nas minas do Congo;- são toupeiras nas galerias das minas do Peru, imprescindíveis pela sua pequena estatura, e, quando os seus pulmões não dão mais, vãp parar aos cemitérios clandestinos;Cultivam café na Colômbia e na Tanzânia e são envenenadas com pesticidas;- são envenenadas com os pesticidas das plantações de algodão da Guatemala e nos bananais das Honduras;- na Malásia recolhem o látex das árvores da borracha, em jornadas de trabalho que vão de sol a sol;- constroem vias férreas na Birmânia;- no Norte da Índia, derretem nos fornos de vidro, e no sul nos fornos de tijolo;- no Bangladesh, desempenham mais de trezentas ocupações diferentes, com salários que oscilam entre o nada e o quase nada por dia sem fim;- participam em corridas de camelos para os emires árabes e são ginetes pastores nas quintas de Rio de la Plata;- em Port-au-Prince, Colombo, Jacarta ou Recife, servem à mesa do patrão, em troca do direito a comer aquilo que cai da mesa;- vendem fruta nos mercados de Bogotá e vendem pastilhas elásticas nos autocarros de São Paulo;- limpam pára-brisas nas esquinas de Lima, Quito ou San Salvador;- engraxam sapatos nas ruas de Caracas ou Guanajuato;- cosem roupa na Tailândia e chuteiras no Vietname;- cosem bolas de futebol no Paquistão e bolas de basebol nas Honduras ou no Haiti;- para pagar as dívidas dos pais, colhem chá ou tabaco nas plantações do Sri Lanka e cultivam jasmins, no Egipto, com destino à perfumaria francesa;- alugadas pelos pais, tecem carpetes no irão, Nepal e Índia, desde antes do amanhecer até depois da meia-noite, e quando chega alguém para as resgatar, perguntam: “O senhor é o meu novo amo?”;- vendidas a cem dólares pelos pais, oferecem-se no Sudão para todo o tipo de tarefas sexuais ou para todo o serviço.Os exércitos recrutam à força crianças, em alguns pontos da África, do Médio Oriente e da América Latina. Nas guerras, os soldadinhos trabalham a matar e, sobretudo, trabalham a morrer: constituem metade das vítimas nas guerras africanas recentes. Com excepção da guerra, que, conforme conta a tradição e ensina a realidade, é coisa de machos, em quase todas as restantes tarefas os braços das meninas revelam-se tão úteis quanto os braços dos meninos. Mas o mercado laboral reproduz nas meninas a descriminação que normalmente pratica contra as mulheres: elas, as meninas, ganham sempre menos do que o pouquíssimo que eles, os meninos, ganham, quando ganham alguma coisa.A prostituição é desde cedo o destino de muitas meninas e, em menor escala, também de uns quantos meninos, em todo o mundo. Por assombroso que pareça, calcula-se que existem pelo menos cem mil prostituas infantis nos Estado Unidos segundo o relatório da UNICEF de 1997. mas é nos bordéis e nas ruas do sul do mundo que trabalha a maioria das vítimas infantis do comércio sexual. Esta indústria multimilionária, vasta rede de traficantes, intermediários, agentes turísticos e proxenetas, conduz-se com escandalosa impunidade. Na América Latina, não tem nada de novo: a prostituição infantil existe desde que, em 1536, se inaugurou a primeira casa de tolerância em Porto Rico. Actualmente, meio milhão de meninas brasileiras trabalha a vender o corpo, em benefício dos adultos que as exploram: tantas como na Tailândia, não tantas como na Índia. Em algumas praias das Caraíbas, a próspera indústria do turismo sexual oferece meninas virgens a quem puder pagar por elas. Em cada ano, aumenta a quantidade de meninas lançadas no mercado de consumo: segundo as estimativas dos organismos internacionais, pelo menos um milhão de meninas é incorporado anualmente na oferta mundial de corpos.Não têm conta as crianças pobres que trabalham, em casa ou no exterior, para a família ou seja para quem for. Na maioria, trabalham fora da lei e fora das estatísticas. E as restantes crianças pobres? Das restantes, muitas são as que sobram. O mercado não precisa delas, nem nunca precisará. Não são rentáveis e nunca o serão. Do ponto de vista da ordem estabelecida, começam a roubar o ar que respiram e depois roubam tudo o que lhes aparece à frente. Entre o berço e a sepultura, a fome ou as balas costumam interromper-lhes a viagem. O mesmo sistema produtivo que despreza os velhos teme a crianças.A velhice é um fracasso, a infância é um perigo. Cada vez há mais crianças marginais que ‘nascem com tendência para o crime’, no dizer de alguns especialistas. Elas integram o sector mais ameaçador dos ‘excedentes de população’. A criança como perigo público, ‘a conduta anti-social do menor na América’, é o tema recorrente dos Congressos Pan-Americanos da Criança, desde há uns tantos anos a esta parte. As crianças que vêm do campo para a cidade, e as crianças pobres em geral, ‘têm um comportamento potencialmente anti-social’, de acordo com as advertências dos Congressos desde 1963. os governos e alguns peritos no assunto partilham a obsessão pelas crianças doentes de violência, orientadas para o vício e para a perdição. Cada criança contém uma possível corrente do El Ñino e é preciso prevenir a devastação que pode provocar. No primeiro Congresso Policial Sul-Americano, celebrado em Montevideu em 1979, a polícia colombiana explicou que “o aumento cada vez maior da população de menos de dezoito anos induz à estimativa de uma maior população POTENCIALMENTE DELINQUENTE” (maiúsculas do documento original.Nos países latino-americanos, a hegemonia do mercado está a destruir os laços de solidariedade e a destroçar o tecido social comunitário. Que destino têm os ninguéns, os donos de nada, em países onde o direito de propriedade está a transformar-se no único direito? E os filhos dos ninguéns? A muitos, que são cada vez mais, a fome empurra-os para o roubo, a mendicidade e a prostituição; e a sociedade de consumo insulta-os oferecendo aquilo que lhes nega. E eles vingam-se, lançando-se ao assalto, bando de desesperados unidos pela certeza da morte que os espera: segundo a UNICEF, em 1995 havia oito milhões de crianças abandonadas, meninos de rua, nas grandes cidades latino-americanas; segundo a organização Human Rights Watch, em 1993 os esquadrões parapoliciais assassinaram seis crianças por dia na Colômbia e quatro no Brasil.


As crianças que não são nem ricas nem pobres


Entre um extremo e outro, o meio. Entre as crianças que vivem prisioneiras da opulência e as que vivem desamparadas, estão as crianças que têm bastante mais que nada, mas muito menos que tudo.São cada vez menos livres as crianças da classe média. “Que te deixem ser ou que não te deixem ser, eis a questão”, soube dizer Chumy Chúmez, humorista espanhol. A estas crianças a liberdade é confiscada, dia após dia, pela sociedade que sacraliza a ordem enquanto gera a desordem. O medo do medo: o chão range debaixo dos pés, já não há garantias, a estabilidade é instável, evaporam-se os empregos, desvanece-se o dinheiro, chegar ao fim do mês é uma façanha.‘Bem-vinda, classe média’, saúda um cartaz à entrada de um dos bairros mais miseráveis de Buenos Aires. A classe média continua a viver em estado de logro, fingindo que cumpre as leis e que acredita nelas e simulando ter mais do que aquilo que tem; mas nunca lhe foi tão difícil cumprir esta abnegada tradição. A classe média encontra-se asfixiada pelas dívidas e paralisada pelo pânico de cair; pânico de perder o trabalho, o carro, a casa, as coisas, pânico de não chegar a ter o que se deve ter para se chegar a ser. No clamor colectivo pela segurança pública , ameaçada pelos monstros do crime que espreita, a classe média é aquela que grita mais alto. Defende a ordem como se fosse a sua proprietária, embora não seja mais do que uma inquilina esmagada pelo preço do aluguer e pela ameaça do despejo.Apanhadas nas armadilhas do pânico, as crianças da classe média estão cada vez mais condenadas à humilhação da prisão perpétua. Na cidade do futuro, que é já a cidade do presente, as telecrianças, vigiadas por amas electrónicas, contemplarão a rua a partir de alguma janela das suas telecasas: a rua interdita pela violência ou pelo pavor à violência, a rua onde acontece o sempre perigoso e, por vezes prodigioso, espectáculo da vida."

GALEANO, Eduardo, "De pernas para o ar - A escola do Mundo às avessas", Lisboa, Editorial Caminho, 2002.

Confiscado ao 'companheiro de armas' FILHO DA (R)EVOLUÇÃO

quinta-feira, julho 14, 2005

Os Sintomas do Neoliberalismo




(Clicar na imagem para aumentar)

terça-feira, julho 12, 2005

Que cada um tire as suas conclusões...

"ERA UMA VEZ UM ARRASTÃO"

segunda-feira, julho 11, 2005

A deriva securitária




"Reino Unido quer comunicações dos europeus sob escuta:

O Ministério do Interior britânico quer que a polícia tenha acesso às chamadas telefónicas e mensagens electrónicas de todos os cidadãos europeus, a fim de prevenir futuros atentados terroristas."
(Também Aqui)




Após os abjectos atentados perpetrados em Londres na passada semana, imediatamente surgem as propostas de invasão e devassa da vida privada dos cidadãos ao melhor estilo Orwelliano, com o invariável argumento securitário.

Transformar-se-à todo e qualquer indivíduo num potencial
Winston Smith, permanentemente vigiado, escutado e seguido?

Quererão os donos do mundo instituir algo ainda mais doentio do que
ISTO?

segunda-feira, julho 04, 2005

O bronco volta a atacar

joao_jardim



"João Jardim contra imigrantes na ilha
O presidente do Governo Regional da Madeira não quer imigrantes chineses ou indianos na ilha.



A ideia foi defendida durante as festas da localidade de Santana.


O presidente do Governo Regional da Madeira manifestou-se, domingo à noite, contra a entrada de imigrantes na ilha da madeira.

No encerramento das festas «24 horas a bailar», em Santana, Alberto João Jardim, criticou a entrada em Portugal de imigrantes chineses, indianos e dos países da Europa de Leste.

«Portugal já está sujeito à concorrência de países fora da Europa, os chineses estão a entrar por ai dentro, os indianos a entrar por ai dentro e os países de leste a fazer concorrência a Portugal... está-me a fazer sinal aí porque? Que estão chineses ai? É mesmo bom que eles vejam porque não os quero aqui», disse o presidente do Governo Regional da Madeira.."




Mais uma maravilhosa pérola intelectual do déspota inimputável da Madeira…

O registo áudio desta elaborada prosa encontra-se
AQUI

domingo, julho 03, 2005

Aproveitem e beatifiquem também o amiguinho...

Papa e Pinochet


"Beatificação de João Paulo II: Processo começa terça-feira"

sábado, julho 02, 2005

«RECICLAGEM»

"Lear: Governo estuda medidas de «reciclagem profissional»


O ministro do Trabalho e Segurança Social afirmou esta sexta-feira que estão a ser estudadas medidas de «reciclagem profissional» para os trabalhadores afectados pela deslocalização da multinacional Lear Corporation, que encerra em Outubro na Póvoa de Lanhoso. "




«RECICLAGEM»???

Ora aí está uma denominação absolutamente demonstrativa da visão que estes políticos ramelosos têm dos trabalhadores. Na minha terra, reciclagem é um termo que se costuma utilizar em relação ao LIXO. HAJA O MÍNIMO DE VERGONHA!!!


P.S. Para quem não esteja a par da situação, a
LEAR CORPORATION é mais uma daquelas multinacionais criminosas norte-americanas que vai empreender um processo de deslocalização para a Roménia, atirando 800 pessoas para o desemprego.

A ver

DESIGUALDADES - Mais um recente Blog que merece ser visitado.

A estes não chega a crise...

"São 20 os funcionários da Administração Pública que auferem salários mais chorudos do que Jorge Sampaio. Investigação da revista Visão

A revista Visão tentou apurar que funcionários da Administração Pública, directa ou indirectamente, ganham mais do que Jorge Sampaio. A última vez que, em Portugal, se fez o recenseamento da Função Pública (1999), ficou a saber-se que existiam 1100 funcionários a ganhar mais do que o primeiro-ministro e 180 com vencimentos acima do Presidente da República. Não foi feito mais nenhum recenseamento, mas segundo a investigação da Visão, são mais de 20 funcionários que ganham mais do que Jorge Sampaio. O Presidente da República ganha 9869,56 euros brutos por mês, com despesas de representação incluída.

Os dez ordenados mais altos:
(de acordo com os dados da revista Visão)

Presidente da Caixa Geral de Depósitos
Remuneração base: 24 939,89 euros
(em 2001, quando António de Sousa era presidente)
Plano de Reforma complementar: 3 740, 9 euros
Outros rendimentos: 930, 8 euros
Prémio de gestão: 116 875,8 euros
Cargo ocupado actualmente por: Vítor Martins



Vice-presidente da Caixa Geral de Depósitos
Remuneração base: 21 189,91 euros
(em 2001, quando Oliveira Cruz era vice-presidente)
Plano de Reforma complementar: 3 179, 8 euros
Outros rendimentos: 640, 9 euros
Prémio de gestão: 99 344,4 euros
Cargo ocupado actualmente por: João Freixa e Maldonado Gonelha



Vogais da administração da Caixa Geral de Depósitos
(valor de 2001. Oito elementos)
Remuneração base: 17 457,93 euros
Plano de Reforma complementar: 2 618, 7 euros
Outros rendimentos: 591, 7 euros e 1361,7
Prémio de gestão: 51 560,63 euros e 96 018,6 euros



Presidente da Autoridade da Concorrência
Remuneração base: 16 344,42 euros
Cargo ocupado actualmente por: Abel Mateus



Presidente da CMVM
Remuneração base: 16 344,42 euros
(em 2004)



Presidente da ERSE
Remuneração base: 16 344,42 euros
(em 2004)



Presidente da Anacom
Remuneração base: 16 344,42 euros
(em 2004)
Cargo ocupado actualmente por: Pedro Duarte Neves



Presidente das Águas de Portugal
Remuneração base: 9 478 euros
Complementos: 91 027,8 anuais
(em 2001, quando Mário Lino era presidente)
Cargo ocupado actualmente por: Pedro Serra



Director clínico do Hospital de Bragança
Remuneração total: 15 469,95 euros
(em 2004)



Vogais da Entidade Reguladora
-Adc,CMVM, ERSE, Anacom
Remuneração total: 13 892,84 euros
(em 2004)"


É "à grande"!!!!

Está-se bem neste país milionário...