A MORDER OS CALCANHARES DO PODER

sexta-feira, abril 29, 2005

Cuidado: a Extrema-Esquerda anda por aí...

Dois dias após ter sido empossado como presidente do CDS-PP, Ribeiro e Castro decidiu tentar evidenciar-se na cena politica nacional com uma manobra ao melhor estilo da direita populista afirmando recear que o "governo maioritário do PS esteja dependente estratégicamente de "forças minoritárias de extrema-esquerda", exemplificando com o referendo ao aborto" , e acrescentando ser"essencial que o governo siga a sua linha estratégica e não se distraia com foguetes que vêm da Extrema-Esquerda"

Estas afirmações não deixam de ser curiosas vindas de onde vêm e tendo em conta o papel desempenhado pelo seu partido durante a anterior legislatura, durante a qual Paulo Portas condicionou e manipulou literalmente a seu bel prazer as decisões do executivo a que pertenceu. A memória para algumas pessoas é, efectivamente, bastante curta. Este senhor, numa tentativa patética de se afirmar, recorre àquela inconfundível táctica manhosa de quem está na política pelas piores razões.
Compreende-se que, para o sr. Ribeiro e Castro, o aborto clandestino e a criminalização das mulheres que a ele recorrem, pondo em risco as próprias vidas, sejam assuntos de somenos importância, mas uma vez que não tinha nada de útil a dizer mais valia ter permanecido calado ao invés de se pôr a debitar baboseiras. Ou será que por se encontrar no Parlamento Europeu, não teve oportunidade de conhecer os últimos resultados eleitorais? Sendo este o caso, na génese destas afirmações não estará já a demagogia barata, mas a simples falta de informação - o que numa pessoa que ocupa tal cargo, não deixará de ser preocupante.


P.S. Será impressão minha, ou o facto deste sujeito se ter feito eleger presidente do CDS-PP a 24 de Abril, não foi fruto do acaso? É que do ponto de vista simbólico, este facto dá que pensar…

quinta-feira, abril 28, 2005

Pois...salarios é que nem vê-los

O incontornável Luis Delgado, diz-nos isto na sua crónica de terça-feira no DN:

"O País está numa "crise" profunda, dizem os pessimistas de sempre. Expliquem-nos, então, por que razão os resultados trimestrais das empresas têm crescimentos substanciais, como não se viam há muitos anos?"




Tem toda a razão!

Lá que as empresas, principalmente a banca, apresentam muito bons resultados já nós sabemos.

À custa de quê?

A mim cheira-me que é à custa dos trabalhadores...mas é só uma suspeita.

Pesadelos Literários

"Socorro, doutor, não consigo dormir!


Seis moscas ficam a zumbir na minha cabeça e não me deixam dormir. O mosqueiro das minhas insónias, na verdade é muito mais numeroso - digo seis para encurtar a coisa. Descrevo aqui algumas das angústias que atormentam as minhas noites. Como se verá, não é pouca coisa. Referem-se nada menos que aos destinos do mundo.


Ficará o mundo sem professores?


Segundo o jornal The Times of India, está a funcionar com absoluto sucesso uma Escola do Crime, na cidade de Muzaffarnagar, na região ocidental do Estado indiano de Uttar Pradesh.


Ali oferece-se aos adolescentes uma formação de alto nível para ganhar dinheiro fácil. Um dos três directores, o pedagogo Susheel Mooch, é encarregado do curso mais sofisticado, que, entre outras matérias, inclui Sequestros, Extorsões e Execuções. Os outros dois ocupam-se de matérias mais convencionais. Todos os cursos incluem trabalhos práticos. Por exemplo, a didáctica do roubo em auto-estradas e estradas: escondidos, os estudantes mandam algum objecto metálico sobre o automóvel escolhido; intrigado com o ruído, o motorista pára e então passa-se ao assalto, que o docente supervisiona.
Segundo os directores, a escola surgiu em resposta a uma necessidade de mercado e para cumprir uma função social. O mercado exige níveis cada vez mais altos de especialização na área da delinquência e a educação criminal é a única que assegura aos jovens um trabalho bem remunerado e permanente.
Receio bastante que tenham razão. E apavora-me pensar que o exemplo se vá propagar pela Índia e pelo mundo. Que será – pergunto-me - dos pobres professores das escolas tradicionais, já punidos com salários de fome e com a pouca ou nenhuma atenção que lhes dão os alunos? Quantos professores conseguirão reciclar-se e adaptar-se às exigências da modernidade? Dos que conheço, nenhum. Consta que são incapazes de matar uma mosca e não têm talento sequer para assaltar uma velhinha órfã e paralítica. Que irão ensinar no mundo de amanhã, esse bando de inúteis?


Ficará o mundo sem presidentes?


Consta do diz-que-disse malicioso que um certo presidente de um certo país latino-americano viajou a Washington para negociar a dívida externa. De volta, anunciou ao seu povo uma notícia boa e uma má:
- A notícia boa é que não devemos nem mais um centavo. A má é que todos os habitantes, temos vinte e quatro horas para sair do país.
Os países pertencem aos seus credores. Os devedores devem obediência; o bom comportamento demonstra-se praticando o socialismo, mas o socialismo ao contrário: privatizando os lucros e socializando as perdas.
- Nós fizemos o trabalho de casa - disseram, com poucos meses de diferença, Carlos Menem, ainda presidente da Argentina, e seu colega mexicano Ernesto Zedillo.


Pelo caminho que levamos, dentro em pouco também se vai privatizar o ar, e logo virão os especialistas explicar que quem não paga pelo ar não o sabe valorizar e não o merece respirar. Tudo ou quase tudo se privatizou, digamos assim, na Argentina, no Brasil, no Chile e no México. Nesses quatro países, explicaram que não havia outro remédio para pagar a dívida externa - e os quatro, agora, devem o dobro do que deviam há dez anos.


E essa é outra das fontes de angústia: fico sem sono, pressentindo que um dia destes os banqueiros credores virão desalojar os presidentes e se sentarão nas suas poltronas ao grito de: Basta de intermediários!


E, noite após noite, fico a revirar-me nos lençóis e perguntando-me onde irá parar toda essa gente. Onde conseguirá emprego essa mão-de-obra tão altamente qualificada?

Irão os presidentes aceitar qualquer tipo de biscate? No McDonald's, a fila é grande.


Ficará o mundo sem assunto?


O espectacular desenvolvimento da tecnologia tornou possível que todos nós, habitantes globais deste mundo, tenhamos passado mais de um ano - todo o de 98 e uma parte do de 99 - na expectativa do grande acontecimento do fim de século: as façanhas da linguista Mónica Lewinsky na sala oval da Casa Branca.
A lewinskização globalizada permitiu a todos nós, nos quatro cantos do planeta, ler, ver e ouvir, até o mínimo detalhe, essa epopeia da humanidade. Os grandes meios de comunicação de massa outorgam-nos mil possibilidades de optar entre isto e isto.


Mas isso acabou por passar, como também passaram Grécia e Roma, e a partir daí, a grande imprensa, as redes de televisão e as rádios ficaram sem assunto. Estava eu a alimentar a esperança de que rebentasse outro sexgate quando alguém me contou que, segundo fontes bem informadas, a secretária de Estado Madeleine Albright ia denunciar o presidente por assédio sexual incessante. Mas nunca mais ouvi mencionar o caso e suspeito que se trate de um boato torpe, indigno de ocupar o centro da atenção universal.


E isso também me tira o sono. Agora que os jornalistas passaram a chamar-se comunicadores sociais, que irão eles comunicar à sociedade? De que irão viver? Mais uma multidão de desempregados lançados à rua?


Ficará o mundo sem inimigos?


Já faz bastante tempo que os Estados Unidos e os seus aliados da Nato não fabricam uma guerra. A indústria da morte está a ficar dócil. Os imensos orçamentos militares precisam de justificar a sua razão de ser e a indústria de armas não tem onde exibir os seus novos modelos.


Contra quem será lançada a próxima missão humanitária? Quem será o próximo inimigo? Quem fará o papel de vilão no próximo filme, quem será o Satã do inferno que virá?

Isso deixa-me muito preocupado. Estive a reler os motivos invocados para bombardear o Iraque e a Jugoslávia e cheguei à conclusão alarmante de que há um país, e um só país, que reúne todas as condições, todas, todinhas, para ser reduzido a escombros.
Esse país é o principal factor de instabilidade da democracia em todo o planeta, devido ao seu velho costume de fabricar golpes de Estado e ditaduras militares. Esse país constitui uma ameaça para os seus vizinhos, que invade, com frequência, desde sempre. Esse país produz, armazena e vende a maior quantidade de armas químicas e bacteriológicas. É nesse país que se situa o maior mercado de drogas do mundo e nos seus bancos lavam-se milhões de narcodólares. A história nacional desse país é uma longa guerra de limpeza étnica, contra os índios primeiro, contra os negros depois; e esse país foi, nos anos recentes, o principal responsável pela matança étnica que aniquilou duzentos mil guatemaltecos, na sua maioria índios maias.


Irão os Estados Unidos auto-bombardear-se?

Invadir-se-ão a si próprios? Cometerão os Estados Unidos esse acto de coerência, fazendo consigo o que fazem com os outros?

As lágrimas molham a minha almofada !Queira Deus evitar que se passe semelhante desgraça com essa grande nação, que nunca foi bombardeada por qualquer outra.


Ficará o mundo sem bancos?


Na sua edição de 14 de Dezembro de 1998, a revista Time publicou o relatório do Congresso norte-americanos sobre a evaporação de cem milhões de dólares provenientes do tráfico de drogas, no México. Segundo a comissão parlamentar que investigou o caso, foi o Citibank que organizou a viagem dessa narcofortuna através de cinco países, assim como inventou empresas-fantasmas e nomes fantasiosos até conseguir apagar as pistas.


O sistema prisional norte-americano - com a maior população do planeta - está cheio de jovens pobres e negros, dependentes de droga; mas o Citibank, estrela brilhante do céu financeiro, não foi preso. Na verdade, essa foi uma ideia que não passou pela cabeça de ninguém. E no entanto, a leitura do relatório deixou-me a ruminar. É verdade que esse grande banco continua livre e prosperando; e que o sabão Citibank, o amaciador Banco Suíço, a água sanitária Bahamas, assim como tantas outras marcas prestigiadas pelas melhores lavandarias continuam a bater, alegremente, recordes de venda no mercado global de artigos de limpeza.


Mas não consigo deixar de pensar que a ameaça se acerca deles.
O que aconteceria se um belo dia a guerra contra as drogas deixasse de ser uma guerra contra os drogados, que pune as vítimas, e se as armas corrigissem a pontaria, apontando a mira mais acima?

Agora, que a economia morreu e só existem as finanças, o que seria do mundo sem bancos? E o que seria do pobre dinheiro, condenado a deambular pelas ruas, como fazem as pessoas sem casa onde morar? Só de pensar nisso, sinto um aperto no coração.


Ficará o mundo sem mundo?


Um dia de Outubro de 98, em plena Era Lewinskiana, descobri uma notícia insignificante, perdida no pé-de-página de algum jornal. Três organizações ambientalistas - WWF International, New Economics Foundation e World Conservation Monitoring Centre - haviam chegado à conclusão de que, nos últimos trinta anos, o mundo perdeu cerca de um terço das suas riquezas naturais. A maior catástrofe ecológica desde a época dos dinossauros: a recuperação das plantas e animais extintos levaria pelo menos cinco milhões de anos.


Desde que li essa pequena notícia sem importância, outra obsessão deixa-me sem dormir. Não consigo tirar da cabeça o pressentimento de que, nalgum tempo, em nalgum lugar, animais e plantas nos farão um juízo final. Chego ao delírio de nos imaginar a todos, acusados por fiscais que nos apontarão, com a pata ou o galho:


-O que é que vocês fizeram deste planeta?

Em que supermercado o compraram?

Quem lhes deu o direito de nos maltratar e exterminar?


E vejo uma corte suprema de animais e vegetais lendo a sentença de condenação eterna contra o género humano.


Pagarão os justos pelos pecadores?

Passarei a minha eternidade no inferno, junto a bem-sucedidos empresários exterminadores do planeta, assim como os seus políticos comprados e os seus chefes guerreiros e os seus negociantes publicitários que vendem veneno envolvendo-o com celofane verde?


Um suor gelado faz-me tiritar o corpo. Até agora, achava que o juízo final era caso para Deus. Na pior das hipóteses, eu iria cumprir o meu destino compartilhando o churrasco perpétuo com assassinos de filmes enlatados, cantores de televisão e críticos literários. Agora, com a comparação, isso parece-me uma coisa à toa."

GALEANO, Eduardo, "Pesadelos Literários", 20 de Outubro de 2004.

in.www.eduardogaleano.hpg.ig.com.br/galeano21.htm

quarta-feira, abril 27, 2005

Olhem...a sério? Afinal não existiam?

Lies


"Iraque sem armas de destruição em massa:
CIA desmente Bush"



Olhem… a sério ? Afinal não existiam?


Grande conclusão. Como se ninguém se tivesse dado conta da falácia em que assentaram os argumentos dos Estados Unidos e seus aliados para invadirem o Iraque.

Agora pergunto eu: onde andam os acérrimos defensores, cá do burgo, da invasão americana, entre eles Luís Delgado, José Manuel Fernandes, Vasco Rato? Onde estão esses tão reputados comentadores que tinham tantas certezas? Onde está agora essa reles comunicação social que foi repetindo até à exaustão este chorrilho de mentiras?

E Durão Barroso? Sim, aquele que em conjunto com Bush, Blair e Aznar, na Cimeira dos Açores deu o seu aval incondicional a uma guerra ilegítima e ilegal,
AFIRMANDO que havia visto provas irrefutáveis da existência de tais armas, não se coibindo de, com as maior das hipocrisias , MENTIR DESCARADAMENTE a todo um país?


Pois…caladinhos como ratos, refugiados na sua inqualificável cobardia em assumir a mentira que patrocinaram. Pena é, que toda esta gente fique na maior das impunidades a começar pelo criminoso de guerra George. W. Bush e acabando em todos os seus subservientes seguidores com o cherne à cabeça. Esta gente devia corar de VERGONHA pelas dezenas de milhares de civis inocentes que ajudaram a matar!

segunda-feira, abril 25, 2005

25 de ABRIL: Ontem, Hoje e SEMPRE!

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"As Portas que Abril Abriu"

Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.
Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.

Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.


Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.

Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.

Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.

Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.

Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era a liberdade.

Era já uma promessa
era a força da razão
do coração à cabeça
da cabeça ao coração.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

Esses que tinham lutado
a defender um irmão
esses que tinham passado
o horror da solidão
esses que tinham jurado
sobre uma côdea de pão
ver o povo libertado
do terror da opressão.

Não tinham armas é certo
mas tinham toda a razão
quando um homem morre perto
tem de haver distanciação

uma pistola guardada
nas dobras da sua opção
uma bala disparada
contra a sua própria mão
e uma força perseguida
que na escolha do mais forte
faz com que a força da vida
seja maior do que a morte.

Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

Posta a semente do cravo
começou a floração
do capitão ao soldado
do soldado ao capitão.

Foi então que o povo armado
percebeu qual a razão
porque o povo despojado
lhe punha as armas na mão.

Pois também ele humilhado
em sua própria grandeza
era soldado forçado
contra a pátria portuguesa.

Era preso e exilado
e no seu próprio país
muitas vezes estrangulado
pelos generais senis.

Capitão que não comanda
não pode ficar calado
é o povo que lhe manda
ser capitão revoltado
é o povo que lhe diz
que não ceda e não hesite
– pode nascer um país
do ventre duma chaimite.

Porque a força bem empregue
contra a posição contrária
nunca oprime nem persegue
– é força revolucionária!

Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.

Disse a primeira palavra
na madrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena.

E então por vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
desceram homens sem medo
marujos soldados «páras»
que não queriam o degredo
dum povo que se separa.
E chegaram à cidade
onde os monstros se acoitavam
era a hora da verdade
para as hienas que mandavam
a hora da claridade
para os sóis que despontavam
e a hora da vontade
para os homens que lutavam.

Em idas vindas esperas
encontros esquinas e praças
não se pouparam as feras
arrancaram-se as mordaças
e o povo saiu à rua
com sete pedras na mão
e uma pedra de lua
no lugar do coração.

Dizia soldado amigo
meu camarada e irmão
este povo está contigo
nascemos do mesmo chão
trazemos a mesma chama
temos a mesma ração
dormimos na mesma cama
comendo do mesmo pão.
Camarada e meu amigo
soldadinho ou capitão
este povo está contigo
a malta dá-te razão.

Foi esta força sem tiros
de antes quebrar que torcer
esta ausência de suspiros
esta fúria de viver
este mar de vozes livres
sempre a crescer a crescer
que das espingardas fez livros
para aprendermos a ler
que dos canhões fez enxadas
para lavrarmos a terra
e das balas disparadas
apenas o fim da guerra.

Foi esta força viril
de antes quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril f
ez Portugal renascer.

E em Lisboa capital
dos novos mestres de Aviz
o povo de Portugal
deu o poder a quem quis.

Mesmo que tenha passado
às vezes por mãos estranhas
o poder que ali foi dado
saiu das nossas entranhas.
Saiu das vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
onde um povo se curvava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.

E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe.
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu.

Essas portas que em Caxias
se escancararam de vez
essas janelas vazias
que se encheram outra vez
e essas celas tão frias
tão cheias de sordidez
que espreitavam como espias
todo o povo português.

Agora que já floriu
a esperança na nossa terra
as portas que Abril abriu
nunca mais ninguém as cerra.

Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.

Quando o povo desfilou
nas ruas em procissão
de novo se processou
a própria revolução.

Mas eram olhos as balas
abraços punhais e lanças
enamoradas as alas
dos soldados e crianças.

E o grito que foi ouvido
tantas vezes repetido
dizia que o povo unido
jamais seria vencido.

Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.

E então operários mineiros
pescadores e ganhões
marçanos e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
souberam que o seu dinheiro
era presa dos patrões.

A seu lado também estavam
jornalistas que escreviam
actores que se desdobravam
cientistas que aprendiam
poetas que estrebuchavam
cantores que não se vendiam
mas enquanto estes lutavam
é certo que não sentiam
a fome com que apertavam
os cintos dos que os ouviam.

Porém cantar é ternura
escrever constrói liberdade
e não há coisa mais pura
do que dizer a verdade.

E uns e outros irmanados
na mesma luta de ideais
ambos sectores explorados
ficaram partes iguais.

Entanto não descansavam
entre pragas e perjúrios
agulhas que se espetavam
silêncios boatos murmúrios
risinhos que se calavam
palácios contra tugúrios
fortunas que levantavam
promessas de maus augúrios
os que em vida se enterravam
por serem falsos e espúrios
maiorais da minoria
que diziam silenciosa
e que em silêncio fazia
a coisa mais horrorosa:
minar como um sinapismo
e com ordenados régios
o alvor do socialismo
e o fim dos privilégios.

Foi então se bem vos lembro
que sucedeu a vindima
quando pisámos Setembro
a verdade veio acima.

E foi um mosto tão forte
que sabia tanto a Abril
que nem o medo da morte
nos fez voltar ao redil.

Ali ficámos de pé
juntos soldados e povo
para mostrarmos como é
que se faz um país novo.

Ali dissemos não passa!
E a reacção não passou.
Quem já viveu a desgraça
odeia a quem desgraçou.

Foi a força do Outono
mais forte que a Primavera
que trouxe os homens sem dono
de que o povo estava à espera.

Foi a força dos mineiros
pescadores e ganhões
operários e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
que deu o poder cimeiro
a quem não queria patrões.

Desde esse dia em que todos
nós repartimos o pão
é que acabaram os bodos
— cumpriu-se a revolução.

Porém em quintas vivendas
palácios e palacetes
os generais com prebendas
caciques e cacetetes
os que montavam cavalos
para caçarem veados
os que davam dois estalos
na cara dos empregados
os que tinham bons amigos
no consórcio dos sabões
e coçavam os umbigos
como quem coça os galões
os generais subalternos
que aceitavam os patrões
os generais inimigos
os generais garanhões
teciam teias de aranha
e eram mais camaleões
que a lombriga que se amanha
com os próprios cagalhões.
Com generais desta apanha
já não há revoluções.

Por isso o onze de Março
foi um baile de Tartufos
uma alternância de terços
entre ricaços e bufos.

E tivemos de pagar
com o sangue de um soldado
o preço de já não estar
Portugal suicidado.

Fugiram como cobardes
e para terras de Espanha
os que faziam alardes
dos combates em campanha.

E aqui ficaram de pé
capitães de pedra e cal
os homens que na Guiné
aprenderam Portugal.

Os tais homens que sentiram
que um animal racional
opõe àqueles que o firam
consciência nacional.

Os tais homens que souberam
fazer a revolução
porque na guerra entenderam
o que era a libertação.

Os que viram claramente
e com os cinco sentidos
morrer tanta tanta gente
que todos ficaram vivos.

Os tais homens feitos de aço
temperado com a tristeza
que envolveram num abraço
toda a história portuguesa.

Essa história tão bonita
e depois tão maltratada
por quem herdou a desdita
da história colonizada.

Dai ao povo o que é do povo
pois o mar não tem patrões.
– Não havia estado novo
nos poemas de Camões!

Havia sim a lonjura
e uma vela desfraldada
para levar a ternura
à distância imaginada.

Foi este lado da história
que os capitães descobriram
que ficará na memória
das naus que de Abril partiram

das naves que transportaram
o nosso abraço profundo
aos povos que agora deram
novos países ao mundo.

Por saberem como é
ficaram de pedra e cal
capitães que na Guiné
descobriram Portugal.

E em sua pátria fizeram
o que deviam fazer:
ao seu povo devolveram
o que o povo tinha a haver:
Bancos seguros petróleos
que ficarão a render
ao invés dos monopólios
para o trabalho crescer.
Guindastes portos navios
e outras coisas para erguer
antenas centrais e fios
dum país que vai nascer.

Mesmo que seja com frio
é preciso é aquecer
pensar que somos um rio
que vai dar onde quiser

pensar que somos um mar
que nunca mais tem fronteiras
e havemos de navegar
de muitíssimas maneiras.

No Minho com pés de linho
no Alentejo com pão
no Ribatejo com vinho
na Beira com requeijão
e trocando agora as voltas
ao vira da produção
no Alentejo bolotas
no Algarve maçapão
vindimas no Alto Douro
tomates em Azeitão
azeite da cor do ouro
que é verde ao pé do Fundão
e fica amarelo puro
nos campos do Baleizão.
Quando a terra for do povo
o povo deita-lhe a mão!

É isto a reforma agrária
em sua própria expressão:
a maneira mais primária
de que nós temos um quinhão
da semente proletária
da nossa revolução.

Quem a fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
um menino que sorriu
uma porta que se abrisse
um fruto que se expandiu
um pão que se repartisse
um capitão que seguiu
o que a história lhe predisse
e entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo que levantava
sobre um rio de pobreza
a bandeira em que ondulava
a sua própria grandeza!
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.
Só nos faltava que os cães
viessem ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente.

Na frente de todos nós
povo soberano e total
que ao mesmo tempo é a voz
e o braço de Portugal.

Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisas em istas
que não cabe dizer aqui
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder!
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!


SANTOS, José carlos Ary, "As Portas que Abril Abriu", Lisboa, Julho-Agosto de 1975.

quinta-feira, abril 21, 2005

O Rottweiler do Vaticano.

p_20_04_2005





  • Anti-Aborto
  • Anti-Eutanásia
  • Anti-Homossexuais
  • Anti-Teologia da Libertação
  • Anti-Ordenação de mulheres
  • Anti- Casamento sacerdotal
  • Anti-Contracepção
  • Anti--Reformismo

O ex-Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, herdeira do Tribunal do Santo Ofício, - vulgo Inquisição, também conhecido pela abonatória denominação de "Rottweiler do Vaticano".

quarta-feira, abril 20, 2005

O regresso de Paulinho das Feiras

portas




Paulo Portas, decidiu reaparecer hoje na vida política portuguesa, após o longo interregno provocado pela vassourada que o eleitorado lhe deu há quase dois meses atrás.

Numa altura, em que nem sequer sabemos se o partido ao qual presidia ainda existe e quem nele manda, Paulinho das Feiras, o demagogo mor da nação decidiu vir a terreiro dizer que:
"O país, a generalidade dos portugueses não vê como prioritária a realização do referendo sobre o aborto".

Desculpe? O país ou o Sr. Portas e os seus seguidores fundamentalistas cristãos?

Pelo menos, no que a mim me diz respeito não lhe permito que fale em meu nome e não lhe reconheço qualquer tipo de legitimidade ou autoridade moral para falar em nome de um povo que tão claramente lhe demonstrou estar cansado do seu populismo baixo, rasca e barato. Quantos votos teve este senhor para se arvorar em porta-voz de milhões de pessoas?


Desapareça Sr. Portas. O país já está cansado da sua verborreia demagógica.

terça-feira, abril 19, 2005

A solução de Belmiro para os fogos florestais

Não há dúvidas que este país continua a regredir de dia para dia, e que está pejado de figurinhas que não olham a meios para atingir os seus repelentes fins.


Desta feita, eis que Belmiro de Azevedo, segundo nos é dado a conhecer pelo Expresso Online, sob o cândido título"INCENDIOS PREOCUPAM BELMIROdefendeu segunda-feira que o combate aos incêndios florestais passa pela concentração da propriedade e pela criação de um comando único de bombeiros a nível nacional.”

Segundo este jornal, o todo-poderoso patrão da Sonae, “ afirmou que o país necessita de «um processo legislativo que ajude a concentrar a propriedade» porque o risco de incêndios é potenciado pela «extrema pulverização da propriedade».”


Ora aí está uma solução deveras original para tão grande preocupação deste individuo em relação à floresta portuguesa.


Vómito! É aquilo que sinto perante a arrogância e falta de vergonha na cara desta gente, para quem a ganância não conhece limites.

Achará o Sr. Belmiro, que nesta merda de país, os ricos não estarão porventura tão ricos como ele desejaria? Ou pretenderá efectiva e indisfarçavelmente o regresso a um sistema de grandes proprietários latifundiários?

E já agora, desde quando é que o Sr. Belmiro tem legitimidade para pressionar os legisladores no sentido de estes lhe satisfazerem os seus desejos e pretensões? Quem se julga ?

NOJO! MIL VEZES NOJO!


P.S. Já que estamos em Abril e à beira de festejar mais um aniversário da Revolução talvez não fosse má ideia ficarmos cada vez mais alerta perante a ofensiva do grande capital no sentido de destruir as conquistas por ela alcançadas.

O Trono Papal

p_17_04_2005

sexta-feira, abril 15, 2005

O Capitalismo em todo o seu esplendor...

Com a devida vénia aoDITO CUJO, onde tive oportunidade de ter conhecimento desta notícia, e uma vez que os Meios de Desinformação de Massas, se estão literalmente borrifando para dar conta deste género de informações, preferindo bombardear as pessoas com lixo televisivo,sendo que, só uma permanente pesquisa em tempo real permite não as deixar cair no esquecimento passo a citar:



"Mais de dois milhões de crianças morreram por motivos associados à pobreza desde o último encontro dos sete países mais industrializados do mundo (G7), há apenas dois meses. O número é da Oxfam, que instalou esta manhã um relógio gigante em frente à sede do Banco Mundial na capital dos EUA, a recordar que a cada três segundos há mais uma vítima."


Só faltava este invertebrado...

O visionário presidente dos Estados Unidos da América, George W. Bush, continua a demonstrar a sua mais que comprovada ignorância, inaptidão e falta de inteligência a cada dia que passa.
Depois da nomeação do Falcão do Pentágono- Paul Volfowitz- para presidente do Banco Mundial, eis que o asqueroso presidente americano se decide por nomear o não menos repugnante neo-conservador John Bolton, como embaixador dos States nas Nações Unidas.
Para quem não esteja a par das posições desta besta, deixo-vos aqui alguns excertos de afirmações proferidas num passado recente por este animal.
  • "O edifício do secretariado da ONU tem 38 andares. Se os últimos dez andares caíssem, não se perdia nada, não fazia diferença nenhuma."
  • "Qualquer reforma do Conselho Permanente da Organização das Nações Unidas devia ser no sentido de considerar apenas a existência de um único membro permanente: os Estados Unidos"
  • "É um grande erro para a América reconhecer a validade da legislação internacional."
  • "A diplomacia não é um fim em si mesmo, só faz sentido se for para avançar os interesses dos Estados Unidos."
  • "As Nações Unidas não existem. O que existe é uma comunidade internacional que pode ocasionalmente ser liderada pela única potência no mundo, que são os Estados Unidos, apenas quando isso serve os nossos interesses e quando conseguirmos convencer os outros a seguirem o nosso caminho."

Perante isto, creio não serem necessários quaisquer comentários adicionais...

in. Jornal Público, Terça-Feira, 12 de Abril de 2005, p.14.

Complemento ao Post anterior

opus dei


Mapa ampliado AQUI

A Opus Dei à conquista do mundo

Oficialmente, a Opus Dei é apenas uma associação católica internacional. A sua actividade limitar-se-ia ao conselho espiritual dos seus 79.303 membros (ou seja 1.506 padres, 352 seminaristas e 77.445 laicos). Membros que ela escolheu entre a nata latino­‑americana e europeia. Entre eles patrões de multinacionais, magnatas da imprensa e da finança, chefes de Estado e de governo. De cada um, ela exige uma austera disciplina e uma completa obediência. Também, embora finja ignorar as suas actividades políticas “pessoais”, pode através deles impor os seus valores aos povos. Esta seita foi fundada a 2 de Outubro de 1928 por um jovem padre espanhol, de origem modesta, o abade Escriva. Tratava-se para os adeptos de chegar à santidade participando na instauração de um regime teocrático do qual Escriva era o profeta. A guerra civil surgiu‑lhes como a ocasião inesperada de estabelecer o Estado católico dos seus sonhos. O abade Escriva tornou-se director de consciência do general Franco. Em conjunto, reabilitaram o velho princípio «Cujus regio, ejus religio» (tal governo num Estado, tal religião neste Estado). A Opus Dei empreendeu seleccionar e formar as elites da ditadura até controlar o essencial do poder. Assim, nos anos 70, o governo do almirante Carero Blanco foi qualificado de “monocolor”: de dezanove ministros, doze eram opusianos. Embora não tenha exercido nenhuma responsabilidade directa no regime, o “padre” não cessou de aconselhar o generalíssimo. Foi ele que sugeriu o restabelecimento da monarquia de direito divino, da qual Franco foi proclamado regente vitalício. O abade Escriva tencionava fazer-se proclamar regente quando ocorresse o falecimento do Caudilho. Foi por isso que se fez nobilitar em 1968 sob o título de Msr Escriva Balaguer, marquês de Peralta. Mas este plano foi alterado dado que no ano seguinte Franco designou o príncipe Juan Carlos I de Bourbon para lhe suceder. Contas feitas, Msr Balaguer tinha outras ambições. Desde o fim da Segunda Guerra mundial, tinha-se instalado em Roma e empregava-se a estender o seu poder na América Latina. Oratórios da Opus tinham sido instalados nas embaixadas espanholas que facilitaram os seus contactos com as elites locais. Prodigalizou os seus conselhos espirituais a todos aqueles que ambicionavam lutar contra o comunismo e firmar a fé católica no seu país. Assim se precipitou para Santiago do Chile em 1974 para celebrar uma acção de graças com três dos seus “filhos espirituais”, o general Pinochet, o almirante Mérino e o general Leigh. Monsenhor de Balaguer teria querido estender a sua “Obra” na Europa mas foi impedido parcialmente pelo isolamento diplomático de Espanha. Os seus objectivos eram recrear uma internacional anticomunista (comparável à aliança Franco­‑Mussolini­‑Hitler durante a guerra civil), romper o isolamento da Espanha franquista e favorecer a construção europeia. Em 1957, fez criar em Madrid, pelo arquiduque Otto von Habsburg­‑Lothringen, o Centro europeu de documentação e de informação (CEDI) e, graças a dois outros dos seus “filhos espirituais”, Alcide de Gasperi e Robert Schuman, pesou na redacção do tratado de Roma que levou à criação da Comunidade Europeia. Como o general Franco, o “padre” faleceu em 1975. Foi erradamente que se acreditou que a Opus Dei desapareceria no inferno com eles. O progresso foi retomado três anos mais tarde, em 1978. Aproveitando as intrigas que paralisavam o Sagrado Colégio, a Opus Dei conseguiu convencer os cardeais a eleger um dos seus pregadores como papa: o arcebispo de Cracóvia, Karol Wojtyla. Desde então, a seita ia poder desviar em seu proveito o aparelho diplomático do Estado do Vaticano e a organização religiosa da Igreja católica. João Paulo II constituiu o seu gabinete quase exclusivamente de opusianos e empregou­‑se a quebrar qualquer resistência no seio da Igreja. Para isso fez isolar – “por razões de saúde” – o superior dos jesuítas, Pedro Aruppe, e nomear um administrador provisório da sua ordem na pessoa de um opusiano, o padre Dezza. Mas não ousou dissolver a companhia de Jesus. Operou uma gigantesca retoma de controlo dos padres latino-americanos, culpados de compartilharem as análises marxistas e de se oporem às ditaduras católicas. Dois homens serviram com zelo a sua política: Msr Josef Ratzinger, prefeito da Congregação para a doutrina da fé, e Msr Alfonso Lopez Trujillo, presidente do Conselho pontifical para a família. Um centro de vigilância foi instalado em Bogotá, dotado de um computador de capacidade estratégica, cujos terminais estão instalados na cidade do Vaticano. Inscreveram-se em fichas todas as actividades políticas dos religiosos latino-americanos. Foi a partir destas informações que foram nomeadamente assassinados por “esquadrões da morte” o padre Ignacio Ellacuria ou Msr Oscar Romero. Enfim, João Paulo II promulgou um novo código de direito canónico, cujo artesão principal foi um prelado da Opus, Msr Julian Herranz-Casado, tornado depois presidente do Conselho pontifical para a revisão dos textos legislativos. Por outro lado, dotou a Obra de um estatuto à medida, o de “prelatura apostólica”. Doravante os membros da Opus Dei escapam à autoridade dos bispos no território dos quais residem. Obedecem apenas ao seu prelado e este ao papa. A sua organização tornou-se um instrumento de controlo das Igrejas locais ao serviço do poder temporal do Vaticano. Um destino que não pode deixar de recordar o de uma outra seita que reinou pelo terror religioso sobre a Espanha do século XVI antes de impor o seu fanatismo sobre a Igreja universal: a Inquisição. Enfim, o papa confiou a administração da “Congregação para a causa dos santos” a um opusiano, Rafaello Cortesini. João Paulo II empenhou-se num processo canónico do abade Escriva de Balaguer e proclamou a seu beatificação no dia do seu próprio aniversário, a 17 de Maio de 1992. Esta mascarada levantou vivas polémicas na Igreja romana. Todos os testemunhos opostos à “causa do santo” foram rejeitados sem ser ouvidos, enquanto seis mil cartas postulares foram incluídas no processo. Elas emanavam nomeadamente de sessenta e nove cardeais, de duzentos e quarenta e um arcebispos, de novecentos e oitenta e sete bispos e de numerosos chefes de Estado e de governo.


MEYSSAN, Tierry,"A Opus Dei à conquista do mundo", Réseau Voltaire, 25 de Janeiro de 1995.

terça-feira, abril 12, 2005

Ontem...como hoje

No seguimento deste Post, convido-vos a ler um pequeno excerto de uma conferência levada a cabo pelo sempre perspicaz Noam Chomsky na Universidade de Duke, em 1994. Ontem, como hoje, esta análise revela-se de uma actualidade impressionante e de uma lucidez a toda a prova.


“HÁ UMA IMAGEM convencional da nova era em que estamos a entrar e das promessas que traz consigo. O Conselheiro para a Segurança Nacional, Anthony Lake, formulou-a claramente ao apresentar a Doutrina Clinton, em Setembro de 1993: «Durante a Guerra Fria a nossa tarefa foi conter uma ameaça global contra as democracias de mercado; agora trata-se de ampliar o respectivo alcance.»
O «mundo novo» que se abre à nossa frente «oferece oportunidades imensas» de avanço na «consolidação da democracia e dos mercados abertos», acrescentava Lake um ano mais tarde.
Lake desenvolvia a ideia de que as questões em jogo são muito mais profundas do que a Guerra Fria. A «verdade duradoura» é que a nossa defesa da liberdade e da justiça contra o Fascismo e o Comunismo foi apenas uma fase numa história de dedicação a «uma sociedade tolerante, na qual os dirigentes e os governos existem não para usar e maltratar as pessoas, mas sim para lhes proporcionar liberdade e oportunidades.» Esse é o «rosto permanente» daquilo que os Estados Unidos fizeram no mundo e «a ideia» que uma vez mais «estamos a defender» hoje.
É com base nessa «verdade duradoura sobre este mundo novo» que mais eficazmente podemos levar a cabo a nossa missão histórica, enfrentando os remanescentes «inimigos da sociedade tolerante», à qual sempre estivemos dedicados, deslocando-nos agora da tarefa de «conter» para a tarefa de «ampliar». Felizmente para o mundo, a única superpotência «em curso» ocupa um lugar singular na história, na medida em que «não procuramos ampliar o alcance das nossas instituições pela força, pela subversão ou pela repressão», antes nos limitamos à persuasão, à compaixão e aos meios pacíficos.*



*Anthony Lake, NYT (New York Times), 23 de Setembro de 1994.



CHOMSKY, Noam, “A Democracia e os Mercados na Nova Ordem Mundial”, Lisboa, Antígona, 2000, p.7.

sexta-feira, abril 08, 2005

Escravatura moderna

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Wolfowitz

O “velociraptor”. Assim chamam a Paul Wolfowitz, vice-ministro da defesa dos Estados Unidos. Este “republicano autoritário”, um dos falcões mais perigosos do Pentágono, concebeu toda a trama da invasão do Iraque. A revista Time qualifica­­‑o de «padrinho», no sentido mafioso, dessa guerra. É além disso o principal teórico da supremacia absoluta de Washington sobre o planeta. E, desde 1992, não pára de declarar: «Que fique bem claro, atacar o Iraque e derrocar Saddam é a única coisa que responde aos interesses vitais dos Estados Unidos».

É também um pró-israelita quase fanático, obcecado pela segurança e pelo destino de Israel. Alguns qualificam esta inquietante personagem de «Kissinger de Bush» porque é a cabeça pensante, o ideólogo supremo do presidente e sem dúvida um génio da política na sua versão mais maquiavélica.

Pois bem, em face do desastre da situação no Iraque e da responsabilidade das teses de Wolfowitz nesta dramática situação, o presidente Bush quer afastá-lo da sua administração. Mas gratificando-o pela sua fidelidade. E propôs o velociraptor nada menos que como presidente do Banco Mundial...

A princípio, as chancelarias internacionais puseram­‑se a rir e pensaram numa brincadeira de mau gosto lançada por jornalistas com vontade de provocar. Mas a informação confirmou­‑se. O segundo mandato de cinco anos do actual presidente do Banco, James Wolfensohn, termina no próximo dia 31 de Maio. E, por tradição (porque tem mais votos que ninguém), Washington nomeia o presidente, sempre estado­‑unidense.

Concebido durante a Segunda Guerra Mundial, em 1944, em Bretton Woods, New Hampshire, o Banco Mundial foi criado para ajudar à reconstrução da Europa. A sua sede encontra­‑se em Washington e é um dos organismos especializados das Nações Unidas; formado por 184 países. A reconstrução continua a ser um aspecto importante do seu trabalho, já que as economias em desenvolvimento se vêem afectadas por desastres naturais e emergências humanitárias e devem levar a cabo actividades de reabilitação depois dos conflitos. Não obstante, agora o Banco concentra mais a sua atenção na redução da pobreza.

“Banco Mundial” é a denominação que se adoptou para designar o conjunto formado pelo Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e a Associação Internacional de Desenvolvimento (AID). Estas duas organizações outorgam empréstimos com juros baixos, créditos sem juros e doações aos países pobres.

Além destas duas organizações, o “Grupo do Banco Mundial” compreende outras três instituições: a Corporação Financeira Internacional (CFI), que promove o investimento privado proporcionando apoio em sectores e países que apresentam um risco elevado; a Agência Multilateral de Garantia de Investimentos (AMGI), que oferece seguros (garantias) contra riscos políticos aos investidores e prestamistas que operam em países em desenvolvimento, e o Centro Internacional de Arbitragem de Disputas sobre Investimentos (CIADI), que soluciona os diferendos relativos a investimentos entre os investidores estrangeiros e os países em que estes operam (para mais informação, confira-se:
web.worldbank.org). A Espanha tornou­‑se membro do BIRD em Setembro de 1958 e graduou­‑se como accionista em 1977.

Parece surrealista que alguém como Paul Wolfowitz, artífice de duas guerras – Afeganistão e Iraque – que causaram um sem número de destruições e centenas de milhares de vítimas civis aceda à cabeça de uma instituição que centra as suas iniciativas em conseguir uma redução sustentável da pobreza. Desde quando construir escolas e centros de saúde, fornecer água e electricidade, lutar contra as doenças e proteger o meio ambiente foram preocupações do falcão Wolfowitz? Situações semelhantes tiram do sério o próprio santo Job.

RAMONET, Ignacio, "Wolfowitz",Radio Chango,28 de Março de 2005.

in: www.infoalternativa.pt.vu

terça-feira, abril 05, 2005

Deve ser isto a tal exportação da democracia...

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Na passada semana, ficámos a ter conhecimento que os Estados Unidos, no seguimento da sua tradicional política de pacificação mundial, se encontram mais activos do que nunca na prossecução destes meritórios esforços.

Para aferir esta realidade, basta que nos debrucemos um pouco sobre três notícias que atestam este magnífico esforço levado a cabo pela administração de George W. Bush :


·
EUA vendem aviões de combate ao Paquistão
·
Washington aumenta os laços de defesa com Nova Deli
·
Estados Unidos retomam a ajuda militar à Guatemala






Com efeito, ficámos a saber que os States decidiram vender aviões de combate F-16 ao Paquistão, país mundialmente reconhecido como campeão dos direitos humanos e da democracia, para além de possuidor de armas nucleares, embora tal decisão tenha merecido, segundo a mesma notícia ,objecções por parte da Índia.

Face a tal oposição, vai daí, os mesmos Estados Unidos, numa bem intencionada tentativa de agradar a ‘gregos e troianos’, anunciaram que iriam proceder a um aumento dos laços de defesa com a Índia, país este, que faz igualmente parte do restrito grupo que possui Armas de Destruição Maciça. A notícia em causa, refere ainda algumas curiosidades que não posso deixar de sublinhar:

Como parte do acordo, Washington aprovou que empresas norte-americanas do ramo da defesa se candidatem ao fornecimento de aviões de combate que a Índia possa desejar adquirir e está a considerar oferecer ao país tecnologia para energia nuclear com uso pacífico, disse o Governo indiano, segundo o qual já existe um diálogo regular entre as duas partes, sobre assuntos globais e regionais.
O primeiro-ministro Manmohan Singh, do Partido do Congresso, manifestara-se muito desiludido por o Presidente George W. Bush ter decidido vender caças a jacto ao Paquistão, velho rival de Nova Deli. Mas logo a seguir, Washington veio esclarecer que também decidira ampliar o diálogo com a Índia. A secretária de Estado, Condoleezza Rice, justificou ontem, numa entrevista publicada pelo Washington Post, a venda dos F-16 ao Paquistão, apresentando-a como prova de que o regime do general Pervez Musharraf se encontra "no bom caminho".
(Para os mais esquecidos, relembro que Musharraf chegou ao poder através de um golpe militar.)


Não persistem dúvidas, de que, efectivamente, estes mentecaptos da administração americana, arranjam uns argumentos deveras originais para justificar as suas decisões, e no caso em questão, a justificação da secretária de Estado é brilhante: os Estados Unidos vendem aviões de guerra a um regime, por este se encontrar “no bom caminho”.

Como se esta ridícula argumentação não bastasse, a boa Condoleezza, relativamente à venda de armamento à Índia, acrescenta: "O que tratamos de fazer é reforçar e desenvolver as relações ao mesmo tempo com a Índia e o Paquistão, numa altura em que temos boas relações com os dois países, o que muitos pensavam impossível, e em que as suas relações bilaterais melhoram". BRILHANTE!!!

Na mesma linha, gostaria de realçar o parágrafo final da notícia em questão:

Os Estados Unidos são o maior vendedor mundial de armamento. Desde o fim da Guerra Fria, já aumentaram em muito a sua percentagem do mercado, vendendo material a mais de 150 países, incluindo alguns que se encontram na lista de violadores dos direitos humanos elaborada pelo Departamento de Estado.”- SEM COMENTÁRIOS!


Por fim, há a referir que entre estes esforços sobre-humanos de espalhar a Paz no mundo, os mesmos Estados Unidos, retomaram a ajuda militar à Guatemala e em particular a um exército acusado de inumeráveis atropelos aos direitos humanos, embora Donald Rumsfeld embevecido tenha afirmado: "Impressionaram-me muito as reformas empreendidas aqui, um esforço difícil realizado com profissionalismo e transparência. Transformar as Forças Armadas é uma tarefa monumental e os senhores concretizaram-na muito bem".



Pois é…parece que a passada semana foi profiqua no que respeita aos negócios de armamento de guerra. Assim se levam a harmonia e a paz aos quatro cantos do mundo.

P.S. no meio de toda esta merda, alguém notou qualquer tipo de referência ao facto de tanto a Índia como o Paquistão serem duas das maiores potências nucleares mundiais na actualidade para além de fonte de instabilidade permanente naquela região do mundo?...

Também me parecia que não...

Aí vou eu de Falcon, à pala do Erário Público

E eu a pensar que em Portugal, existia uma separação entre o Estado e a Igreja.
Mas por que carga de água, terão de ser todos os contribuintes portugueses – crentes e não crentes – a pagar a viagem do sr. Cardeal – Patriarca, e não a Igreja Católica Portuguesa, quando se sabe que só na nova basílica de Fátima vão ser gastos milhões de contos?

sábado, abril 02, 2005

Sonho americano

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