A MORDER OS CALCANHARES DO PODER

quinta-feira, março 31, 2005

A promoção da democracia no Médio Oriente

"A chamada “promoção da democracia” tornou‑se no tema principal da política declarada dos EUA no Médio Oriente. O projecto tem antecedentes. Existe uma “forte linha de continuidade” no período do pós-guerra fria, escreve Thomas Carothers, director do Programa de Dotação da Carnegie sobre Lei e Democracia, no seu novo livro Critical Mission: Essays on Democracy Promotion.



«Onde a democracia parece ajustar-se bem à segurança e aos interesses económicos dos EUA, os Estados Unidos promovem a democracia», conclui Carothers. «Quando a democracia choca com outros interesses significativos, é menosprezada ou mesmo ignorada».



Carothers serviu o Departamento de Estado de Reagan em projectos sobre “fortalecimento da democracia” na América Latina durante a década de 1980 e escreveu um livro sobre eles, tirando essencialmente as mesmas conclusões. Acções e pretensões similares valem também para períodos prévios, e são características de outras potências dominantes.



Uma forte linha de continuidade, e os interesses da potência que a sustentam, afectam eventos recentes no Médio Oriente, assinalando a real substância da postura de “promoção da democracia”.



A continuidade é ilustrada pela nomeação de John Negroponte como primeiro director do serviço de informação nacional. O arco da carreira de Negroponte vai das Honduras, onde como embaixador de Reagan supervisionou a guerra das forças terroristas dos Contra contra a Nicarágua, até ao Iraque, onde como embaixador de Bush presidiu brevemente a outro exercício no alegado desenvolvimento da democracia – experiência que pode assisti-lo nos seus novos deveres para ajudar a combater o terrorismo e promover a liberdade. Orwell não teria sabido se devia rir ou chorar.



No Iraque, as eleições de Janeiro foram bem sucedidas e dignas de elogio. No entanto, o principal sucesso foi assinalado só de maneira marginal: os Estados Unidos foram compelidos a permitir que tivessem lugar. Esse é um verdadeiro triunfo, não dos lançadores de bombas, mas da resistência não violenta do povo, tanto secular como islâmica, para quem o grande ayatollah Al Sistani é um símbolo.



Apesar do arrastamento de pés dos EUA­/RU, Sistani exigiu eleições rápidas, reflectindo a determinação popular de alcançar a liberdade e a independência, e alguma forma de direitos democráticos.



A resistência não violenta continuou até que os Estados Unidos (e o Reino Unido, a reboque obedientemente atrás) não tiveram outro recurso senão permitir as eleições. A maquinaria doutrinária pôs­‑se então em plena marcha para apresentar as eleições como uma iniciativa dos EUA. Em linha com a continuidade e as raízes da grande potência, podemos antecipar que Washington não tolerará de boa vontade resultados políticos a que se oponha, especialmente numa região do mundo tão crucial.



Os iraquianos votaram com a esperança de pôr fim à ocupação. Em Janeiro, uma sondagem pré­‑eleitoral no Iraque, reportada por analistas do Instituto Brookings na página de opinião do The New York Times, descobriu que 69 por cento dos xiitas, e 82 por cento dos sunitas, estavam a favor de uma “retirada a curto prazo dos EUA”.



Mas Blair, Rice e outros têm sido explícitos em rejeitar qualquer cronograma para uma retirada – isto é, postergando-a para o futuro indefinido – até que os exércitos de ocupação completem a sua “missão”, nomeadamente – levar a democracia forçando o governo eleito a ajustar­‑se às exigências dos EUA.



Acelerar uma retirada dos EUA­/RU depende não só dos iraquianos mas também da disposição dos eleitorados norte­­‑americano e britânico de obrigar os seus governos a aceitar a soberania iraquiana.



Enquanto os eventos se desdobram no Iraque, os Estados Unidos continuam a manter uma postura militante em relação ao Irão. As recentes fugas sobre forças especiais dos EUA no terreno no Irão, sejam verdadeiras ou falsas, inflamam a situação.



Uma ameaça genuína é que em anos recentes os EUA enviaram para Israel mais de 100 jactos bombardeiros avançados, com altissonantes anúncios de que são capazes de bombardear o Irão – versões actualizadas dos aviões que Israel usou para bombardear o reactor nuclear iraquiano em 1981.



É uma questão de conjectura, mas a ameaça pode servir dois propósitos: provocar a liderança iraniana para que se torne mais repressiva, assim encorajando a resistência popular; e intimidar os rivais dos EUA na Europa e na Ásia para que não prossigam iniciativas diplomáticas e económicas para com Irão. A linha dura já assustou alguns investimentos europeus no Irão, por medo de retaliação dos EUA, segundo informou Matthew Karnitschnig no The Wall Street Journal.



Outro desenvolvimento que está a ser aclamado como um triunfo da promoção da democracia é a trégua Abbas­/Sharon. As notícias do acordo são bem-vindas: é melhor não matar do que matar.



Contudo, olhem de perto para os termos da trégua. O único elemento substantivo é que a resistência palestina, mesmo contra o exército de ocupação, deve cessar.



Nada poderia encantar mais os falcões dos EUA­/Israel do que uma paz completa, que lhes permitiria continuar, sem obstáculos, a política de aquisição do controlo das terras valiosas e dos recursos da Cisjordânia, e grandes projectos de infra­‑estrutura para dividir o resto dos territórios palestinos em cantões inviáveis.



As depredações israelitas nos territórios ocupados apoiadas pelos EUA têm sido o âmago da questão do conflito há anos, mas o acordo de cessar­‑fogo não contém uma só palavra sobre elas. O governo de Abbas aceitou o acordo – talvez porque, poderíamos argumentar, é o melhor que podem fazer enquanto Israel e os Estados Unidos rejeitarem um acordo político. Poderíamos acrescentar que a intransigência dos EUA pode continuar só enquanto a população norte­‑americana o permitir.



Gostaria de ser optimista a respeito do acordo, e agarrar­‑me a qualquer brisa de esperança, mas até agora não vejo nada de real.



Para Washington um elemento constante é que a democracia e o império da lei são aceitáveis se e só se servirem objectivos estratégicos e económicos oficiais. Mas as posições da população norte­‑americana sobre o Iraque e Israel/Palestina vão contra a política governamental, de acordo com as sondagens. Portanto, impõe­‑se a questão de saber se uma genuína promoção da democracia não deveria antes começar no interior dos Estados Unidos.


CHOMSKY, Noam, "A promoção da democracia no Médio Oriente",
Khaleej Times, 4 de Março de 2005.

sexta-feira, março 25, 2005

Censura

Curioso...


Alguém reparou nesta NOTÍCIA ou a viu por aí a circular nos 'mass media'?
Aproveitem também para ouvir o registo audio, das declarações que este senhor faz, no arquivo que a TSF disponibiliza na coluna à direita da mesma.



Curiosa...esta ausência informativa nos demais orgãos de comunicação social.

O espírito de Portas

“Sócrates deve «corrigir pensamento» de Freitas”



lobotomy-2



“Paulo Portas recordou algumas das declarações feitas por Freitas do Amaral nos últimos anos. O líder demissionário do CDS-PP defendeu que Portugal só pode ter uma política externa coerente se o primeiro-ministro estiver atento.”




Estará Portas a defender uma lobotomia para o Freitas?

Será que alguém já lhe explicou que o Fascismo acabou há 30 anos, ou este senhor ainda julga que vive no tempo da Ditadura Salazarenta , durante a qual, pensar de forma diferente constituía delito de opinião que dava direito a uma temporada no Tarrafal?

Se ainda as houvesse, creio que, cada vez mais, se dissipam as dúvidas acerca do profundo espírito democrático de Portas…

quarta-feira, março 23, 2005

O Lixo começa a vir ao de cima II

Ministros de Santana adjudicam sistema de comunicações três dias após as eleições

“O ex-ministro da Administração Interna, Daniel Sanches, assinou um despacho conjunto com o responsável pela pasta das Finanças, Bagão Félix, três dias após as eleições legislativas, adjudicando um sistema de comunicações, no valor de mais de 500 milhões de euros, a um consórcio liderado pela Sociedade Lusa de Negócios (SLN), uma holding para a qual o próprio Daniel Sanches trabalhou, antes de integrar o Governo de Santana Lopes.Manuel Dias Loureiro, deputado do PSD e presidente da mesa do congresso, também está ligado a este grupo como administrador não executivo. O ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais de Cavaco Silva, Oliveira e Costa é o presidente da SLN. A adjudicação do Sistema Integrado das Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP) - uma infra-estrutura de comunicações móveis, que permitirá a interligação entre as várias forças de segurança, a emergência médica e a protecção civil - foi assinada no dia 23 de Fevereiro. O processo de escolha da empresa, que irá assegurar a rede durante pelo menos 15 anos, já tem um vasto currículo de polémicas.(…)”



Ora aí está mais um estranho (talvez para um marciano) acontecimento ocorrido, após as eleições legislativas. E digo estranho, por estas razões:

  • Então não é que um dos autores deste despacho, no caso, Daniel Sanchez até já havia trabalhado para o consórcio ao qual foi atribuído o dito sistema de comunicações?

  • Será, só coincidência, o facto de o dito despacho ter sido assinado a 23 de Fevereiro, três dias após a realização das eleições?

  • Será, só coincidência , o facto de Dias Loureiro também ter ligações ao mesmo consórcio, bem como Oliveira e Costa - ex-secretário de Estado de Cavaco?

  • Será , só coincidência, o facto de que os valores a pagar se cifrem na ordem de, espante-se, mais de 500 MILHÕES DE EUROS- qualquer coisa como cerca de 100 MILHÕES DE CONTOS em moeda antiga?

  • Será, só coincidência,o facto desta empresa estar garantida pelos próximos 15 ANOS?

  • Será, só coincidência,o facto de as restantes empresas de telecomunicações terem desistido de tão apetecível concurso, alegando que o mesmo já se encontrava “previamente decidido”?

  • Será, só coincidência, o facto de estas decisões serem todas rotuladas de “urgentes”, quando o Poder foge?

    E, como nota final, não posso deixar de realçar aqui o papel não menos importante de Bagão Félix em todo este processo, esse grande defensor dos pobres e oprimidos deste país e irredutível defensor da contenção da despesa pública.

    E, já agora, não acham que este país começa a necessitar uma MEGA OPERAÇÃO “MÃOS LIMPAS”?

Consumismo = Epidemia

prop_epidemic

Terrorismo de Estado ou as novas "Operações Condor"?

"Rendições,os raptos da CIA"

"Um líder religioso egípcio radical, conhecido como Abu Omar, encaminhava-se para as orações da tarde, em Fevereiro de 2003, quando foi agarrado no passeio por dois homens que o atacaram com "spray" e o meteram numa carrinha. Não se soube dele desde então. No entanto, investigadores de Milão parecem estar agora perto de identificar os seus raptores. O mês passado, responsáveis apareceram na base área de Aviano (Itália) e pediram registos de todos os aviões americanos que tenham voado para ou da instalação militar conjunta americana-italiana por volta da altura do rapto. Também pediram os registos dos veículos que entraram na base. As autoridades italianas suspeitaram de que o Egipto era o alvo de uma operação patrocinada pela CIA [agência de espionagem dos Estados Unidos da América] conhecida como "Rendição", em que os suspeitos de terrorismo são levados à força para países para onde a tortura é praticada.
O inquérito italiano é uma das três investigações oficiais a "rendições" que terão ocorrido na Europa Ocidental e que vieram à tona no ano passado. Ainda que a CIA realize normalmente operações com a bênção ou a ajuda dos serviços secretos dos países onde actua, as autoridades italianas, alemãs e suecas estão a verificar se agentes norte-americanos terão desrespeitado leis locais detendo suspeitos de terrorismo em solo europeu e sujeitando-os a abuso ou maus tratos. A CIA tem mantido os pormenores dos casos de "Rendição" um segredo bem guardado, mas defendeu já a prática como um meio legal e eficaz de prevenir o terrorismo. Há espiões que vêm admitindo o recurso a esta táctica com mais frequência desde os ataques de 11 de Setembro de 2001. A Administração [do Presidente George W.] Bush recebeu o apoio para a execução de operações "Rendição" de governos que têm sido criticados pelo seu currículo em termos de direitos humanos, como o Egipto, a Jordânia e o Paquistão, para onde muitos dos suspeitos são levados para serem interrogados. Deputados e magistrados europeus questionam se a prática não é uma evidente violação das soberanias locais e dos direitos humanos.
Há muitos obstáculos práticos e legais à acusação de agentes norte-americanos, incluindo a questão de estarem protegidos por imunidade diplomática. No entanto, os magistrados dos ministérios públicos em Itália e na Alemanha não excluíram apresentar queixas-crime. As investigações europeias estão, ao mesmo tempo, a levar a novas revelações sobre a suspeita de envolvimento norte-americano no desaparecimento de cinco homens - não incluindo o egípcio -, cada um deles dizendo que foi vítima de abusos físicos e mais tarde torturado. Na Alemanha, um homem de 41 anos, Khaled Masri, disse às autoridades que esteve fechado durante umas férias nos Balcãs e que depois foi levado de avião para Cabul, no Afeganistão, em Janeiro de 2004. Ali foi detido como suspeito de terrorismo durante quatro meses. Depois de os seus captores perceberem que não era o suspeito da Al-Qaeda que procuravam, foi levado de novo para os Balcãs, tendo sido abandonado numa encosta na fronteira albanesa. Masri lembra-se de que os seus captores falavam inglês
com sotaque americano. Os magistrados alemães, depois de alguns meses a analisar este relato, confirmaram várias partes essenciais da história e estão a investigá-la como rapto. "Até agora, não vimos qualquer sinal de que o que ele está a dizer é incorrecto", disse Martin Hofmann, um investigador de Munique que está a supervisionar o inquérito. "Tenho tentado encontrar os que o detiveram, que o torturaram, e quem foi responsável por isto", acrescentou
o investigador. Na Suécia, uma investigação parlamentar descobriu que agentes da CIA encapuzados orquestraram a saída forçada do país, em Dezembro de 2001, de dois egípcios, num avião registado nos EUA que voou para o Cairo, onde os homens alegam que foram torturados na prisão. Mais tarde, um dos homens foi ilibado da suspeita de terrorismo pelas autoridades egípcias, enquanto o outro continua detido no Egipto. Detalhes da operação secreta deixaram muitas pessoas chocadas na Suécia, um país empenhado na defesa dos direitos humanos. Ainda que as autoridades suecas tivessem secretamente convidado a CIA a ajudar na operação, as revelações fizeram com que o director da polícia de segurança sueca prometesse que a sua agência nunca mais iria deixar agentes estrangeiros tomar conta de um caso destes. "No futuro, vamos usar as leis suecas, medidas suecas e aviação militar sueca quando deportarmos terroristas", disse aos jornalistas Klas Bergenstrand, o chefe da polícia de segurança. "Desse modo, podemos ter controlo completo de toda a situação."
Em Milão, o líder religioso nascido no Egipto atraiu a atenção da polícia antiterrorismo logo após a sua chegada a Itália, em 1997, vindo da Albânia. Conhecido como Abu Omar, o seu nome completo era Hassan Mustafa Osama Nasr. Tinha 42 anos, era um veterano combatente das guerras na Bósnia e no Afeganistão e um homem procurado pelas autoridades no Egipto, onde era acusado de pertencer a um grupo radical ilegal. Nasr rezava frequentemente em duas mesquitas em Milão que atraíam, desde há muito, extremistas religiosos e políticos, de acordo com responsáveis italianos e americanos. Uma das mesquitas, uma garagem modificada na Viale Jenner, é classificada como financiadora de terrorismo pelo Departamento do Tesouro dos EUA, que a acusou de apoiar "o movimento de armas, homens e dinheiro pelo mundo". Nasr reforçou a reputação da mesquita fazendo sermões revoltados contra a invasão norte-americana do Afeganistão e distribuindo panfletos criticando a política americana no Médio Oriente. A polícia antiterrorismo italiana pôs o seu telefone sob escuta e manteve-o sob vigilância. "Era o tipo de pessoa que não falava de modo diplomático", comentou Abdelhamid Shaari, presidente do Centro Cultural Islâmico na Viale Jenner, que nega que a mesquita apoie o terrorismo ou qualquer actividade ilegal. "Quando atacava a América, não estava com meias medidas. Ia direito ao assunto", frisou Shaari. Quando Nasr desapareceu, a sua família e a mesquita fizeram queixa do seu rapto, depois de uma testemunha ter afirmado que vira tudo. A testemunha, uma imigrante recente, disse estar demasiado assustada para repetir a sua história à polícia, levando alguns investigadores a sugerir que Nasr tinha ido para o Iraque combater as forças americanas.
A polícia dos EUA abriu uma investigação, mas o caso ficou parado durante mais de um ano. Isso mudou em Abril de 2004, quando a mulher de Nasr recebeu uma chamada telefónica do seu marido. Disse-lhe que tinha sido raptado e levado para uma base aérea norte-americana em Itália. A chamada foi gravada pela polícia italiana, que tinha mantido o telefone de casa de Nasr sob vigilância. Ainda que as transcrições não tenham sido divulgadas, os companheiros de Nasr na mesquita disseram que ele contou que tinha sido torturado e mantido nu a temperaturas abaixo de zero numa prisão no Cairo.
Durante a conversa telefónica, Nasr disse à mulher que o deixaram sair da prisão no Egipto, mas continuava sob prisão domiciliária. Os seus familiares acreditaram que teria sido novamente preso depois de pormenores da sua conversa terem sido divulgados em jornais italianos. A existência da escuta telefónica é atestada em documentos de tribunal selados, vistos pelo "The Washington Post". Os documentos, datados da Primavera de 2004, incluíam uma autorização de um juiz para prosseguir a escuta e mostram que os investigadores seguiam a pista que revelava que agentes à paisana (possivelmente norte-americanos, italianos ou egípcios) estavam por trás do rapto. Desde então, investigadores italianos apuraram que 15 agentes, alguns deles operacionais da CIA, estiveram envolvidos no rapto de Nasr, de acordo com o "Corriere della Sera", um importante diário italiano. Os investigadores conseguiram detectar a origem de chamadas feitas pelos agentes fazendo ligações com telefonemas realizados através dos mesmos telefones perto da mesquita e da base aérea de Aviano no dia em que Nasr desapareceu, relatava o jornal italiano. A investigação está a ser liderada por Armando Spataro, um magistrado do Ministério Público italiano que se tornou conhecido, ao conseguir condenações em casos envolvendo a máfia e a corrupção política. Spataro, que no passado já trabalhou com responsáveis norte-americanos em casos de terrorismo, confirmou que visitou Aviano em Fevereiro, mas não quis fazer mais comentários. O capitão Eric Elliott, um porta-voz militar norte-americano em Aviano, disse que Spataro se encontrou durante várias horas com responsáveis italianos, que depois encaminharam um pedido dos registos aos seus homólogos americanos. Citando uma "investigação em curso", Eric Elliott não aceitou adiantar mais pormenores. A embaixada norte-americana em Roma recusou também responder a questões sobre os agentes americanos e o desaparecimento de Nasr. "Não comentamos assuntos de espionagem", disse Ben Duffy, um porta-voz da embaixada. Deputados da oposição italiana pediram esclarecimentos ao primeiro-ministro, Sílvio Berlusconi, sobre a possibilidade de agentes ou serviços secretos italianos terem tido um papel no rapto. Mas os ministros do Governo têm-se mantido silenciosos. Shaari, o director do Centro Islâmico Cultural em Milão, declarou que alguns muçulmanos estão com medo de também serem raptados. "Se puderam levar Abu Omar, então podem levar qualquer um", afirmou. "É um precedente extremamente perigoso, tanto para a comunidade muçulmana como para a Itália, como Estado livre e democrático."
No final de Dezembro de 2003, Khaled Masri envolveu-se numa discussão azeda com a mulher quando ia a caminho da cidade de Ulm, na Alemanha. O casal concordou que Masri deveria ausentar-se por uns dias, por isso ele comprou um bilhete de autocarro para Skopje, na Macedónia. Na fronteira macedónia, na véspera de fim de ano, funcionários da imigração olharam duas vezes para o seu passaporte e detiveram-no, sem explicações. Mais tarde, outros agentes interrogaram-no e pressionaram-no a admitir que era membro da Al-Qaeda, de acordo com relatos de Masri aos seus advogados e aos investigadores alemães. Masri clamou inocência, mas foi mantido sob guarda na Macedónia durante três semanas. Disse que num dia no final de Janeiro de 2004 foi espancado, despido, amarrado e colocado num avião que o levou ao Afeganistão. Aí, foi posto numa cela sob condições terríveis, privado de água e repetidamente interrogado. Só depois de ter feito uma greve de fome, disse, os seus captores cederam; foi levado de volta aos Balcãs em Maio de 2004. Masri disse ter sido libertado perto de um "checkpoint" na fronteira albanesa, onde guardas lhe devolveram o passaporte e o dinheiro. Quando chegou a casa, até a mulher estava relutante em acreditar na sua história, pensando que o marido a teria trocado por outra mulher, contou o seu advogado. A polícia alemã interrogou Masri várias vezes e concluiu que a sua versão dos acontecimentos era consistente e verosímil. Os carimbos no passaporte mostram que entrou na Macedónia e deixou a Albânia nas alturas descritas. O condutor do autocarro que se dirigia a Skopje confirmou aos investigadores que Masri tinha estado a bordo e que tinha sido levado por guardas da fronteira. Os investigadores conduziram uma análise química do cabelo de Masri, afirmando que os resultados apoiam a sua versão de que sofreu de malnutrição enquanto esteve cativo. O registo de voos também corrobora a história de Masri de ter sido levado de avião para fora da Macedónia por agentes dos serviços secretos norte-americanos. Os registos mostram que um Boeing registado nos Estados Unidos chegou a Skopje às 9h da manhã no dia 23 de Janeiro de 2004 e partiu cerca de seis horas depois. Masri tinha dado aos investigadores alemães a mesma data e horários. O plano de voo mostra que a aeronave tinha como destino Cabul, mas acabou por ser modificado de modo a incluir uma paragem em Bagdad (Iraque). A existência dos registos do voo foi primeiro difundida pelo Frontal 21, um programa de informação na televisão alemã ZDF. O "Washington Post" obteve uma cópia dos registos. O jacto, com o número N313P, estava registado na altura numa empresa americana, a Premier Executive Transport Services Inc., que os registos sugerem que seja uma empresa encoberta da CIA. A mesma empresa tem uma outra aeronave que foi utilizada noutros casos de "Rendição", incluindo um na Suécia. O advogado de Masri e os investigadores consideram que ele foi raptado, porque o seu nome é semelhante ao de um suspeito da Al-Qaeda, Khalid Masri, que terá alegadamente desempenhado um papel crucial a convencer os membros da célula de Hamburgo que realizaram os ataques de 11 de Setembro a irem para o Afeganistão, onde conheceram Osama bin Laden. Manfred Gnjidic, o advogado, diz que pediu à embaixada norte-americana em Berlim uma explicação sobre o que aconteceu, mas não recebeu qualquer resposta. "Temos bastantes certezas sobre quem está por trás disto", declarou Gnjidic. "Estamos a tentar responsabilizar alguém para o castigar." Robert Wood, um porta-voz da embaixada, recusou-se a responder a questões específicas sobre o caso. "Mas a nossa política é bastante clara. Os Estados Unidos não transferem detidos para países onde acreditemos que é mais provável que sejam torturados", disse. Os responsáveis macedónios também não tinham muito a dizer. "A nossa resposta é: não comentamos", disse Goran Pavlovski, o porta-voz do Ministério macedónio do Interior. "Se os alemães querem informação, deveriam pedir, e nós responderemos." Segundo a legislação alemã, os magistrados do Ministério Público têm autoridade para investigar qualquer crime cometido contra um cidadão alemão, mesmo em território estrangeiro.
Hofmann, o magistrado do Ministério Público de Munique, reconheceu que tem poderes limitados para investigar casos fora da Alemanha. Mas disse que estava a preparar um pedido formal de ajuda do Governo macedónio, assim como das autoridades afegãs e albanesas. "Estou confiante de que vamos ter mais informação", disse. E acrescentou: "Este caso tem um considerável significado político. Há uma certa dose de pressão em toda a gente envolvida."
MAIS INFORMAÇÕES aqui , aqui e aqui
*WHITLOCK, Craig, "Rendições, os raptos da CIA", Revista Pública, 20 de Março de 2005,nº460.
*Com Julie Tate Exclusivo PÚBLICO/"The Washington Post"

sexta-feira, março 18, 2005

Pobreza infantil aumentou 3,2%.

childrens


"Entre 40 a 50 milhões de crianças dos 24 países mais ricos da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) vivem abaixo do limiar da pobreza anunciou, ontem, a UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância). A organização veio alertar para o aumento da pobreza das crianças em 17 destes países mais ricos. Em Portugal, segundo os dados revelados, a pobreza infantil aumentou 3,2%desde os anos 90, estando, actualmente, nos 15,6%."


"Para a UNICEF, o indicador de pobreza relativa é definido quando uma criança vive numa família cujos rendimentos são inferiores a metade do rendimento médio nacional. Em 13 dos 24 países, o salário dos pais decresceu em 25% dos casos e, em sete países ,houve uma descida de dez pontos percentuais.
Segundo a agência das Nações Unidas, a pobreza infantil está relacionada com as condições do mercado de trabalho, as políticas governamentais e os factores sociais."

O Lixo começa a vir ao de cima...

Depois de há dois dias, termos ficado a ter conhecimento DISTO, como aqui referi, eis que ontem é tornado público mais um caso de flagrante falta de vergonha protagonizado pelo ex-Governo PSD/PP. AQUI

Então não é que, o ex. Ministro do Ambiente
LUÍS NOBRE GUEDES, decidiu nomear Luís Filipe Barros Mendes adjunto de gabinete, num despacho datado de 11 de Fevereiro( a nove dias das eleições) e publicado em Diário da República a 15 de Março, nomeação esta com a validade de um mês – com início a partir de 1 de Março, dando como argumento o facto de ser “indispensável assegurar o funcionamento na área económica do gabinete para além de 28 de Fevereiro “. Como se não bastasse, atente-se neste pormenor: “com reembolso das despesas de telefone”.

Fantástico!

Porém, mais brilhante ainda, foi a explicação de Nobre Guedes quando questionado acerca deste facto, dizendo que esta nomeação só se havia dado nesta altura porque, e passo a citar, “A lei orgânica foi atrasando. Era assim no Governo”.


– Mas o que é que era assim no governo?

A incompetência na aprovação das leis em tempo útil ou as nomeações visando assegurar determinados lugares para os amigos?

Sinceramente, embora não descartando de todo a primeira hipótese (até porque exemplos não faltam), não posso deixar de admitir que a segunda se me assegura igualmente relevante, quanto mais não seja pelo restante teor da notícia em causa, que vos convido a observar:

“Embora com uma justificação de carácter diferente, a nomeação de Nobre Guedes é uma entre as várias dezenas que o Governo de Santana Lopes fez em período de gestão. Em Janeiro, e na sequência de notícias na imprensa, o próprio primeiro-ministro ordenou um levantamento de todos esses casos. O número encontrado foi de 89, mas depois disso as nomeações continuaram, com especial incidência na área da saúde.”


Assim se arranjam empregos na República das Bananas…


quarta-feira, março 16, 2005

A Ofensiva Neo-Conservadora Mundial

wolf_stmt031210



Tomei hoje conhecimento, de uma notícia que dava conta da intenção de George W. Bush de designar um falcão do Pentágono - PAUL WOLFOWITZ- como presidente do BANCO MUNDIAL, um dos instrumentos mais fortes e eficazes de imposição da dominação americana a todo o planeta.
Com efeito, este neoconservador representante da ala mais reaccionária da política americana, poderá agora tomar em mãos os destinos desta instituição.



A notícia refere ainda, que “Antes da nomeação do presidente do Banco Mundial, que tradicionalmente recai num americano em virtude de um «pacto de cavalheiros» informal com a Europa, o presidente Bush informará, os 184 Governos que fazem parte do Banco Mundial da sua decisão. “

Face ao relatado, impõem-se aqui alguns esclarecimentos acerca desta grotesca personagem .
A saber:

• Paul Wolfowitz foi , entre outras pouco recomendáveis, uma das figuras que em
Janeiro de 1998 tentou pressionar o então presidente americano Bill Clinton a atacar o Iraque através de um documento no qual se defendia o argumento de que este país constituía um perigo para “as tropas americanas na região, os nossos amigos e aliados como Israel, os Estados árabes moderados e uma parte significativa da oferta mundial do petróleo”.

• Wolfowitz, segundo o “New York Times”, definiu uma doutrina segundo a qual”: a missão política e militar da América exige que nenhuma potência rival possa emergir. Incluindo as potências regionais que estorvem Washington.” Invocando a “dominação benigna” dos Estados Unidos, rejeita as teses duma política internacional multilateralista.”


• Por fim, há a referir que foi este senhor quem
afirmou a 4 de Junho de 2003, no auge da polémica em torno da pseudo existência de armas de destruição maciça iraquianas, que este argumento havia sido utilizado por parte dos Estados Unidos como "justificação burocrática" , revelando que a decisão de partir para a guerra se tinha devido ao facto do Iraque "nadar" em petróleo. Como refere o jornal Público "de acordo com a edição "online" do jornal "The Guardian", Wolfowitz emitiu estas declarações quando discursava perante delegados numa cimeira sobre segurança na Ásia e que decorreu em Singapura no passado fim-de-semana. Ao ser questionado pelo facto de uma potência nuclear como a Coreia do Norte merecer uma abordagem diferente do Iraque, o "falcão" do Pentágono admitiu que a principal diferença entre os dois países "é que economicamente não tínhamos escolha no Iraque. O país nada num mar de petróleo".


Pobre Mundo este, no qual as Instituições mais influentes estão entregues a gangsters deste calibre!

P.S. Que raio de «acordo de cavalheiros», permite que sejam os Estados Unidos a determinar quem deve presidir aos destinos de determinados Órgãos? E quem é George W. Bush, para tomar uma decisão deste tipo, dando-se ao luxo de só posteriormente à sua tomada de posição a comunicar (impor) a 184 países?

FMI & BM

NEOLIBERALISMO-POBREZA-064

Notícia curiosa...

“Santana dá subsídio ao chefe das secretas "


O ex-primeiro-ministro Pedro Santana Lopes assinou já depois das eleições (a 22 de Fevereiro) um despacho a atribuir a Domingos Jerónimo, secretário-geral dos Serviços de Informações da República Portuguesa (SIRP), um subsídio mensal de alojamento de mais de 1200 euros. O despacho, publicado na segunda-feira passada no Diário da República, prevê que o subsídio tenha efeitos retroactivos, ou seja, será pago desde que Domingos Jerónimo se tornou, em Dezembro, por nomeação de Santana Lopes, o novo homem forte das secretas nacionais. De acordo com a Lei Orgânica dos SIRP (aprovada em Setembro passado), o cargo de secretário-geral tem equiparação a secretário de Estado e responde directamente perante o primeiro-ministro. Que o nomeia e exonera.Na altura em que foi nomeado por Santana, o nome de Domingos Jerónimo foi envolvido em polémica e mereceu críticas dos partidos da oposição, pelo facto de ter sido até essa data secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros.”



Interrogo-me acerca da razões que levaram à concessão desta «benesse»… mas a descodificação das mesmas fica ao critério do(a) leitor(a)…

Mas lá que este despacho é estranho é…além de inaceitável por:

a) ter sido assinado depois das eleições que puseram este senhor a andar, através de uma votação massiva que exprimiu todo o descontentamento popular, em relação à bandalheira que levou a cabo ao longo dos parcos meses em que esteve no cargo dinástico que o cherne lhe deixou.

b) Mostrar que a desfaçatez deste homem não tem limites.

c) Brincar, uma vez mais, com o dinheiro dos contribuintes deste país, atribuindo um subsídio de ALOJAMENTO, no valor de aproximadamente três salários mínimos a alguém que, suponho, não deve ganhar assim tão mal.

d) Como se, por si só, esta inaceitável atribuição não bastasse, o sr. Lopes ainda lhe acrescenta EFEITOS RETROACTIVOS.


NUMA PALAVRA SÓ: VERGONHOSO!


In.
http://dn.sapo.pt/2005/03/16/nacional/santana_subsidio_chefe_secretas.html

terça-feira, março 15, 2005

O Concerto do Lucro

“Nunca como hoje as grandes empresas deram tanto lucro. Neste período de apresentação de resultados, os números estão aí, vindos dos dois lados do Atlântico, a somar-se aos divulgados em Portugal Exemplos concretos? O Citigroup anunciou um lucro recorde de 17 mil milhões de dólares em 2004: no mesmo período, a Renault chegou aos 3,55 mil milhões de euros; só no último trimestre do ano, a petrolífera Mobil ganhou 8,4 mil milhões de dólares. A lista abrange a maioria das empresas cotadas em bolsa nos países industrializados, e os números são tão absurdamente enormes que escapam ao entendimento do comum dos mortais.

Apesar da crise apregoada, as empresas portuguesas participam activamente no concerto do lucro. Os supermercados declaram resultados líquidos que ultrapassam de longe os do ano anterior, os CTT pura e simplesmente duplicam os seus lucros e os benefícios da EDP e dos bancos privados, explodem para cima. Por seu turno, a Portugal Telecom, cujos lucros foram em 2004, mais do dobro de 2003, «vai gastar 250 milhões de euros para abater mil postos de trabalho», segundo noticia o Público. Por todo o lado, a constante é a mesma, indecente e perversa: os lucros crescem ao mesmo ritmo que aumenta o desemprego!

Em Portugal, a taxa de desempregados ultrapassa os 7% e atinge o ponto mais alto da última década. Só em Janeiro, o cortejo degradante dos desempregados foi engrossado por quinhentos portugueses. Cada dia, todos os dias. E, neste domínio, Portugal está melhor que a média da EU, o espaço político-económico mais invejado no mundo: 8,8% da população está no desemprego. Acima desta média situam-se a Alemanha e a França, os ricos entre os ricos. A injustiça social não é, portanto, especificamente portuguesa, mas antes a consequência inevitável e visível do ultraliberalismo económico em voga.

Num texto sobre o mercado de trabalho face à globalização, a ONU considera que o emprego precário e o trabalho clandestino são os motores da economia paralela. Trata-se de «uma estratégia de sobrevivência que, por regra, implica um grau de pobreza e de marginalização social que exclui os trabalhadores de qualquer forma de protecção social ou jurídica». Muitos destes sobreviventes «executam o trabalho que anteriormente era feito por trabalhadores pertencentes aos quadros das empresas. Daí resulta que um número sem precedentes de pessoas(…) tenha menos segurança de emprego do que alguma vez teve e tenha menos acesso a assistência caso o seu trabalho acabe ou a sua saúde se deteriore».

Lucro e desemprego…Estaremos a falar da mesma humanidade? Para onde vai todo o dinheiro gerado à custa de desemprego e de ameaças à solidariedade social, à saúde e às pensões de reforma? É reinvestido pelas empresas de modo a criar mais riqueza e mais postos de trabalho ou gasto em aumentos salariais dos seus empregados? Claro que não! O lucro está ao serviço de si próprio. Dos benefícios do banco francês BNP Parisbas, 43 milhões de euros vão para aumentos de ordenado, enquanto 486 milhões são distribuídos aos accionistas, sob forma de dividendos. É a regra no mercado global…

Como se este desfasamento brutal na distribuição da riqueza não bastasse, metade dos capitais da bolsa francesa são detidos por accionistas estrangeiros, sobretudo norte-americanos. É portanto para eles que vai metade do fruto do trabalho dos franceses – dos franceses que ainda têm emprego, entenda-se. E em Portugal? Em nome dos interesses de que é que as empresas lucrativas cotadas na bolsa abatem postos de trabalho?

Numa análise com o título premonitório «Um capitalismo sem projectos», o economista Patrick Artus conclui que «se os lucros não geram os investimentos de amanhã e os empregos de depois de amanhã, mas servem apenas para distribuir dinheiro aos accionistas, a utilidade de lucros elevados não é evidente». Certamente que não. Mas é evidente que foi porque o capital servia somente para gerar capital e o trabalho para gerar miséria que o marxismo se impôs a metade do mundo. Resignados ou revoltados, é bom não o esquecer.”

FEYO, José Manuel Barata, “O concerto do lucro”, Grande Reportagem, nº218, 2005.

segunda-feira, março 14, 2005

prop_absolut1

sexta-feira, março 11, 2005

Terrores Brancos

"Prevê-se que em cada cinco crianças nascidas hoje, três jamais arranjarão emprego estável.

As gerações que fizeram a guerra colonial, que acreditaram no 25 de Abril, que abriram a democracia, têm agora pela frente, em vez de um tempo afagante, um horizonte áspero – porque opaco de desamparos para os seus descendentes. A crença que as moveu durante a vida saiu-lhes no final dela, pela culatra. O País mais justo, mais ameno, que pensaram construir não passou, para a maior parte, de uma ilusão, de um engodo.

CORROMPIDA, A LIBERDADE imergiu-as em novas (outras) desigualdades, indignidades, como as do crescente, insaciável «triângulo negro» da precarização, escravização, exclusão. Direitos penosamente conquistados ( na saúde, na assistência, no trabalho, no ensino, no lazer, na cultura) estão a ser dissolvidos em cascatas de perfumado cinismo light. Os jovens que entram no mundo do emprego, fazem-no a prazo, a contrato volátil, vendo-se, sem a mínima segurança, impedidos de construir uma vida própria, entre zappings de subtarefas e de pós-formações ludibriadoras.

O problema não tem no sistema vigente, o que poucos ousam admitir, solução visível. Enquanto isso há quem, para se confundir (confundir), culpabilize por ele a baixa taxa de natalidade e, lestamnete, se proponha a incentivá-la para aumentar o número de crianças abandonadas?, para disparar a percentagem de jovens sem ocupação?, para renovar de carne fresca e farta os canhões, as camas, os catecismos, os evangelismos? Prevê-se, com efeito, que em cada cinco crianças nascidas hoje em Portugal, três jamais arranjarão emprego estável.

A QUEDA, POR EXEMPLO, de descontos para a Previdência ( que tanta ondulação provoca) não advém da falta de trabalhadores com vontade de fazê-los – aos descontos; advém, sim, da falta de trabalho para serem feitos. Há já mais de 600 mil desempregados «seniores» e de 80 mil jovens à procura do primeiro emprego ( 40 mil licenciados), sem que ninguém, ao que se observa, se dinamize com isso. Nesta fase, as teses «coelheiras» só iriam agravar, não resolver, os problemas demográficos existentes.

SUBIR A IDADE DA REFORMA PARA OS 70 ANOS (aos 50 um trabalhador começa a ser tratado pelos superiores e colegas como um estorvo), aumentar os horários laborais (a produção tornou-se não insuficiente mas excessiva para o mercado), congelar os salários líquidos ( enquanto a inflação os baixa) como defendem certos especialistas (que preservam, no entanto, para si retribuições e reformas milionárias) apenas desarticulará o mecanismo social que a humanidade vem, penosamente, construindo no sentido de tornar a existência mais digna e solidária.
As velhas gerações, a sair de cena, agarram-se às influências que julgam, julgavam, manter, merecer. Disfarçando desesperos, socalcam sem resultados patéticas vias sacras de cunhas, súplicas, empenhos, hipotecas, tráficos. As crispações que não sentiram quando, décadas atrás, iniciaram as suas carreiras (eram de outro tipo as, então, sofridas) experimentam-nas agora em relação à insegurança inquietante dos filhos e netos.

Ingénuas, acreditaram que bastava, como no seu tempo, um curso superior para se ficar protegido, promovido. Fizeram os seus tirá-lo sem reparar que as universidades se transformaram de clubes VIP em fábricas de massificadoras, cada vez mais vazias de elitismos internos e externos.

SÒ OS FILHOS-FAMÍLIAS dominantes (na direita, no centro e na esquerda, na economia, na política e nos lobbies) dispõem de privilégios garantidos, defendidos.
Portugal continua a ser, mentalmente, uma monarquia – não de aristocratas aquosos mas de padrinhos gordurosos.

Que será dos jovens quando se lhes acabarem a casa, a mesada, a protecção, os enlevos dos progenitores?

Um terror branco asfixia silenciosamente, para lá do pressentível, várias gerações de nós – entre nós."

DACOSTA, Fernando, “Terrores Brancos”, Visão, 24 de Fevereiro de 2005, nº625,p.130.

capitalism-2

quarta-feira, março 09, 2005

CENSURA?

Censura?


Ontem, na rubrica económica que a SIC Notícias apresenta pelo final da tarde em parceria com o Diário Económico, foram dados a conhecer alguns valores interessantes acerca da perda de receitas fiscais por parte do Estado, resultantes da diminuição do pagamento de impostos por parte da Banca e das grandes empresas(sic), situados na ordem dos 17% e que se cifram em largas dezenas de milhões de Euros.

Esperei, ingenuamente, que a mesma informação fosse repetida nos noticiários posteriores que aquela estação televisiva leva a cabo de 30 em 30 minutos e NADA!

Com alguma esperança, acreditei poder vir a encontrar alguma referência a esta informação nos jornais diários de hoje, Diário Económico incluído.

Qual o resultado? –NADA- nem uma linha!

Esclareçam-me por favor:
- esta não é uma notícia relevante?
-Ou estamos perante o regresso da CENSURA e da informação selectiva?

Eu defendo que se vá Foder...

“Miguel Beleza defende aumento do IVA para 20 por cento”



“O economista Miguel Beleza defendeu o aumento da taxa máxima do imposto sobre o valor acrescentado (IVA) de 19 para 20 por cento, durante um debate organizado na quinta-feira à noite pela Sedes - Associação para o Desenvolvimento Económico e Social e centrado no tema do reequilíbrio das finanças públicas e relançamento da actividade económica.” avançando ainda que “A taxa de 12 por cento não tem razão de ser" no Imposto sobre o Valor Acrescentado.


Miguel Beleza, actual consultor do Banco Comercial Português e acompanhado de algumas personagens como Vítor Bento- presidente da Unicre, Silva Lopes- actual presidente do Montepio Geral, e Teodora Cardoso- consultora do Banco Português de Investimento, avançou com esta ideia genial de uma vez mais lixar os mais lixados.

Na mesma linha, Silva Lopes, defendeu “que a economia portuguesa tem de crescer, a política orçamental precisa de ser restritiva e a carga fiscal pode aumentar”.


Para estes invertebrados tenho somente algumas palavras: EU DEFENDO QUE SE VÃO FODER!!!

P.S. A falta de vergonha, decoro e escrúpulos destes chupistas do sistema é absolutamente NOJENTA!!!, perante os lucros astronómicos da Banca, tornados públicos recentemente e num país onde os salários dos trabalhadores por conta de outrém são miseráveis.

HAJA VERGONHA! CHULOS DE MERDA!


in.http://jornal.publico.pt/noticias.asp?a=2005&m=03&d=05&id=9845&sid=1049

terça-feira, março 08, 2005

Causas e consequências...

prop_enemies

segunda-feira, março 07, 2005

Trabalho clandestino é recurso face à Globalização

Se alguém ainda tem dúvidas relativamente aos efeitos perniciosos desta Globalização Neoliberal selvagem que está a ser levada a cabo e imposta a todo o mundo, recomendo a leitura deste texto bastante esclarecedor. E já agora, aproveito para realçar o facto de invariavelmente este tipo de notícias ser remetido para as páginas interiores dos jornais, o que me leva a acreditar firmemente que existe uma estratégia bem delineada por parte dos órgãos de comunicação social dominantes, em fazê-las “desaparecer” convenientemente da vista atenta dos leitores…


ONU analisa e ataca efeitos de um mercado global que segrega os menos capacitados.


"O impacto da globalização sobre as economias nacionais e os seus efeitos frequentemente nocivos para os mercados de trabalho preocupam a ONU e as organizações associadas, a começar pela Organização Mundial de Trabalho (OIT).
O seguinte texto oficioso mantém plena actualidade e, de uma forma crua, levanta numerosas questões pertinentes, na ressaca de uma impressionante degradação do mundo laboral como a que por toda a parte se evidencia.

A propósito da sessão extraordinária da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre a Execução das Conclusões da Cimeira Mundial sobre desenvolvimento Social e Outras Iniciativas- sob o deprimente lema Trabalhar para ganhar a vida é mais difícil na economia global -, aqui se publica seguidamente a transcrição de alguns extractos de um texto de apoio:

“Apregoam jornais, cigarros e quinquilharias diversas. Reparam automóveis em garagens nas traseiras das casas, servem em restaurantes e trabalham no serviço doméstico. Fabricam artigos e peças sobresselentes para mercados distantes e produzem programas para computador.
Não existem registos do trabalho que fazem. Não há recibos de impostos, nem contribuições para a reforma, nem seguro de saúde. E, cada dia que passa, mais pessoas se dedicam a este tipo de trabalhos.
São os trabalhadores que constituem a economia paralela. Trabalhando muitas vezes durante muitas horas com uma escassa retribuição, os trabalhadores utilizam com frequência o sector paralelo como último recurso, uma estratégia de sobrevivência, e isso implica geralmente um grau de pobreza e de marginalização social que os coloca fora dos limites de qualquer forma de protecção social ou jurídica.
Em termos mundiais, em vez de desaparecer à medida que o desenvolvimento se consolida, o sector paralelo está a crescer, muitas vezes mais rapidamente do que o sector formal. O sector paralelo foi o principal criador de postos de trabalho na América Latina, durante a última década, e calcula-se que, em África, o emprego urbano no sector paralelo seja responsável por 61% da mão-de-obra urbana.”

“Trabalho clandestino é recurso face à globalização”, Guia DN & Classificados, Sábado, 5 de Março de 2005, p.1.

sábado, março 05, 2005

American Terror

prop_terror

A luta pela memória nas sociedades livres

Como funciona o controle de pensamento em sociedades que se dizem livres? Por que jornalistas famosos são tão ansiosos, quase como um reflexo, por minimizar a culpabilidade de líderes políticos tais como Bush e Blair que partilham a responsabilidade pelo ataque não provocado a um povo indefeso, por levar a devastação à sua terra e por matar pelo menos 100 mil pessoas, a maior parte delas civis, tendo procurado justificar este crime atroz com mentiras comprovadas? Por que um repórter da BBC descreve a invasão do Iraque como "uma vingança de Blair"? Por que as emissoras de rádio e TV nunca associaram os Estados britânico e americano ao terrorismo? Por que tais comunicadores privilegiados, com acesso ilimitado aos factos, alinharam-se para descrever uma eleição não observada, não verificada, ilegítima, cinicamente manipulada, efectuada sob uma ocupação brutal, como "democrática" e com o imaculado propósito de ser "livre e justa"?
Será que eles não lêem a história? Ou estará a história que sabem, ou preferem saber, sujeita a tal amnésia e omissão que produz uma visão do mundo através de um espelho moral unilateral? Não há qualquer sugestão de conspiração. Este espelho de uma só face assegura que a maior parte da humanidade seja encarada quanto à sua utilidade para "nós", sua desejabilidade ou dispensabilidade, seu mérito ou demérito do nosso ponto de vista. Exemplo: a noção de curdos "bons" no Iraque e curdos "maus" na Turquia. A assunção infalível de que "nós" no ocidente dominante temos padrões morais superiores a "eles". Um dos "seus" ditadores (muitas vezes um antigo cliente nosso, como Saddam Hussein) mata milhares de pessoas e é declarado um monstro, um segundo Hitler. Quando um dos nossos líderes faz o mesmo, é encarado, na pior das hipóteses como Blair, em termos shakespearianos. Aqueles que matam pessoas com carros bombas são "terroristas"; aqueles que matam muito mais pessoas com bombas cluster são os nobres ocupantes de um "pântano".
A amnésia histórica pode difundir-se rapidamente. Apenas dez anos após a guerra do Vietnam, que eu cobri, um inquérito de opinião pública nos Estados Unidos revelou que um terço dos americanos não podia recordar-se qual o lado que o seu governo havia apoiado. Isto demonstrou o poder insidioso da propaganda dominante, de que a guerra era essencialmente um conflito de "bons" vietnamitas contra "maus" vietnamitas, no qual os americanos foram "envolvidos", levando a democracia ao povo do Vietnam do sul que enfrentava uma "ameaça comunista". Tais suposições falsas e desonestas permeiam a cobertura dos media, com excepções honrosas. A verdade é que a mais prolongada guerra do século XX foi travada contra o Vietnam, o norte e o sul, comunista e não comunista, pela América. Foi uma invasão não provocada da sua pátria e das suas vida, assim como a invasão do Iraque. A amnésia assegura que, enquanto as relativamente poucas mortes dos invasores são constantemente reconhecidas, as mortes dos mais de cinco milhões de vietnamitas são remetidas ao esquecimento.
Quais são as raízes deste fenómeno? Certamente, a "cultura popular", especialmente filmes de Hollywood, podem determinar o que e quão pouco nos lembramos. A educação selectiva em idade precoce desempenha a mesma tarefa. Enviaram-me um guia de revisão para estudantes da moderna história mundial, amplamente utilizado, acerca do Vietnam e da guerra fria. O seu conteúdo é aprendido por garotos de 14 a 16 anos nas escolas britânicas que se preparam para o crítico exame GCSE. Ele informa o seu entendimento de um período histórico fundamental, o qual deverá influenciar o modo como compreenderão as notícias de hoje do Iraque e alhures.
Ele é chocante. Ele afirma que sob o acordo de Genebra de 1954 "o Vietnam estava repartido no norte comunista e no sul democrático". Numa só frase, a verdade é despachada. A declaração final da conferência de Genebra dividia o Vietnam "temporariamente" até que eleições livres nacionais fossem efectuadas na data de 26 de Julho de 1956. Havia pouca dúvida que Ho Chi Minh venceria e formaria o primeiro governo democraticamente eleito do Vietnam. O presidente Einsenhower certamente não tinha dúvida quanto a isto: "Nunca conversei com uma pessoa conhecedora dos assuntos indochineses", escreveu ele, "que não concordasse em que ... oitenta por cento da população teria votado pelo comunista Ho Chi Minh como seu líder".
Não só os Estados Unidos recusaram permitir à ONU que administrasse as eleições acordadas dois anos depois, como o "democrático" regime no sul era uma invenção. Um dos inventores, o responsável da CIA Ralph McGehee, descreve no seu livro magistral "Enganos fatais" (Deadly Deceits) como um brutal mandarim expatriado, Ngo Dinh Diem, foi importado de Nova Jersey para ser "presidente" e um governo impostor foi colocado no poder. "Foi ordenado à CIA", escreveu ele, "sustentar tal ilusão através da propaganda [colocada nos media]".
Arranjaram eleições falsificadas, saudadas no ocidente como "livres e justas", com responsáveis americanos a fabricarem "um comparecimento de 83 por cento apesar do terror Vietcong". O guia não se refere a nada disto, nem tão pouco que "os terroristas", aos quais os americanos chamavam Vietcong, eram também sulistas a defenderem a sua pátria contra a invasão americana e cuja resistência era popular. Por Vietnam leia-se Iraque.
O tom deste panfleto é do "nosso" ponto de vista. Não há a noção de que existiu um movimento de libertação nacional do Vietnam, simplemente "uma ameaça comunista", simplesmente a propaganda de que "os EUA estavam aterrorizados por muitos outros países poderem tornar-se comunistas e ajudarem a URSS — eles não queriam um número maior ", simplesmente que o presidente Johnson "estava determinado a manter o Vietnam do Sul livre de comunistas" (ênfase no original). Este prosseguiu rapidamente para a Ofensiva do Tet em 1968, a qual "acabou na perda de milhares de vidas americanas -- 14 mil em 1969 -- a maior parte foram jovens". Não há qualquer menção aos milhões de vidas vietnamitas também perdidas na ofensiva. E a América meramente começou "uma campanha de bombardeamento": não há referência à maior tonelagem de bombas já despejada na história da guerra, de uma estratégia militar que concebida deliberadamente a fim de forçar milhões de pessoas a abandonarem os seus lares, e aos produtos químicos utilizados de uma maneira que alterou profundamente o ambiente e a ordem genética, deixando uma terra outrora generosa quase arruinada.
Este guia de revisão reflecte os viezes e distorções dos manuais oficiais, tais como o prestigioso manual de Oxford e Cambridge, utilizado por todo o mundo como modelo. Sua secção da guerra fria refere-se ao "expansionismo" soviético e a "difusão" do comunismo, não há uma palavra acerca da "difusão" predatória da América. Uma da sua "questões chave" é: "Quão efectivamente os EUA contiveram a difusão do comunismo?" O bem versus o mal para mentes não orientadas.
"Caramba, montes de coisas para você aprender aqui..." dizem os autores do guia de revisão, "assim aprenda correctamente agora". Caramba, o império britânico não existiu; não há nada sobre as atrozes guerras coloniais que foram modelos para a potência sucessora, a América, na Indonésia, Vietnam, Chile, El Salvador, Nicarágua, para nomear apenas umas poucas ao longo do rastro de sangue da moderna história imperial, da qual o Iraque é a mais recente.
E agora o Irão? Os tambores da guerra já começaram. Quantas mais pessoas inocentes têm de morrer antes que aqueles filtram o passado e o presente despertem para a sua responsabilidade moral de proteger a nossa memória e as vidas de seres humanos?

PILGER, John,"A luta pela memória nas sociedades livres",15 de Fevereiro de 2005.


17/Fev/2005
[*] John Pilger nasceu e criou-se em Sidney, Austrália. Já foi correspondente de guerra, director de cinema e autor de peças de teatro. Residente em Londres, escreveu a partir de muitos países e ganhou por duas vezes o mais alto prémio do jornalismo britânico, o de "Journalist of the Year", pelo seu trabalho no Vietnam e no Cambodja. O seu novo livro, Tell Me No Lies: Investigative Journalism and Its Triumphs, foi publicado pela Jonathan Cape. O original encontra-se em http://pilger.carlton.com/print . Tradução de JF. Este artigo também apareceu, sob o título "John Pilger descobre que os nossos filhos aprendem mentiras", no New Statesman (21/Fev/2005). Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

Escravatura

prop_slavery

Capitalismo

"Sexo, dinheiro e egoísmo,guerra, fanatismo,
sejam bem vindos ao outro lado do capitalismo
paro já, a verdade onde é que está
nas notas de dólar ou nas palavras de Alá
será nos aviões do Osama ou na democracia americana
que mais gente engana
quando proclama direitos da vida humana
situação palestiniana
bloqueio da ilha cubana
armas de destruição maciça iraquianas
acho que perderam nas chamas
nos poços de petróleo
nos jogos de monopólio
derrama-se mais sangue do que crude
mais palavras que atitude
revolucionários já morreram
já não há Robin Hoods
hoje é cada um por si
nesta terra do caos
repleta de cobras, serpentes
escorpiões e lacraus
antigamente havia naus, espadas, pedras e paus
hoje há naves, aviões, bombas, carros, camiões
mísseis rebentam como vulcões
em destrutivas intenções
a humanidade desce mais um degrau
nas intenções de paz
ganância, intolerância
colocam todas as boas intenções para trás
a paz é no papel
como Palestina e Israel
eu acredito na revolução
como o Guevara e o Fidel
mudaram-se os comportamentos
inverteram-se os papeis
decisões não vêm dos parlamentos
agora vêm dos quartéis
precisamos de um olhar profundo
pensar, parar um segundo
os Estados Unidos estão por detrás
de todo o mal que há no mundo
eu acredito na filosofia
não no FBI nem na CIA
social e culturalmente
vocês é só economia
temos de nos manter resistentes
como o Chanana Gusmão
mesmo quando os estados unidos
vendem armas à indonésia
ou então,
viver de forma inteligente
não deixar que a fraqueza do capitalismo
entre na nossa mente
viver para o carro, para a roupa
saidas e vida louca
encher o nariz de coca
carregar a arma e por a toca
dá-me tudo e cala a boca
a tua chance será pouca
capitalismo tem duas faces
todos querem viver na outra

no outro dia na televisão vi o George Bush
a dizer que não gostava de ditadores
eu achei estranho, e tu?
quando o pai dele era amigo pessoal do Mobutu
eles passaram férias juntos
será de que assuntos eles falaram?
será que só falaram de futebol ou de literatura?
ou achas que alguma vez chegaram a falar dos 3 milhões de zairenses que
morreram em 40 anos de ditadura?

eu acho que não
a vida humana não tem importância
quando está em questão
interesses económicos, políticos e monetários
capitalismo é o sistema
dos grandes proprietários
e o planeta é propriedade privada
multinacionais democratas
e ditadores de fachada
poluem, empobrecem, causam miséria e guerra
o mundo é o vosso quintal
nós todos os outros somos sem terra
foda-se isto está a ficar
como nunca ficou
os Estados Unidos mandam no mundo
desde que a guerra fria acabou
mas lutar contra quem e contra quê
é o que nos separa
a corrupção não se vê
e os novos ditadores não têm cara
para quê lutar, falar, para quê pensar
eu prefiro-me isolar neste mundo
estilo Mhuammar
Kadafi ou até mesmo Hugo Chavéz
mesmo quando as classes mais favorecidas
causam entraves
quem tem sempre defende o que é seu
mas quem vos enriqueceu
quem sangrou para vocês terem
continua sem beber, sem comer, sem estudar
e sem nada para oferecer
quando os filhos nascerem"

XEG, "Capitalismo", Conhecimento,2004.

sexta-feira, março 04, 2005

jos67

Outra vez a caça às bruxas.

Os Estados Unidos vivem hoje a mais negra etapa em termos de respeito pelas ideias discrepantes dos códigos do establishment, baseados quase sempre em preconceitos, meias verdades ou mitos. A liberdade de ensino começa a receber o embate dos personagens e meios mais reaccionários. Recentemente produziu­‑se um caso verdadeiramente abominável: a censura imposta a Ward Churchill, académico indígena da Universidade do Colorado, chefe do seu departamento de estudos étnicos e activista pelos direitos dos indígenas do seu país.

Churchill possui vasta obra como escritor dentro da que destaca Agentes da repressão: a guerra secreta do FBI contra o Partido Panteras Negras e o movimento índio norte­‑americano e Um pequeno assunto de genocídio, holocausto e negação nas Américas: de 1492 à actualidade. Devido à sua excelência académica e às suas agudas análises foi convidado a dar dezenas de conferências em outras universidades e este ano estava programada para Fevereiro uma palestra sua na Universidade de Hamilton, estado de Nova York, sobre as prisões e os direitos dos nativos norte­‑americanos. O patrocinador era o projecto Kirkland para o estudo de género, sociedade e cultura dessa universidade, dirigido por Nancy Rabinowitz. O foco das conferências de Churchill foi expor o genocídio e a actual opressão contra os indígenas norte­­‑americanos.

Mas desta vez uma muito bem orquestrada campanha propagandística exigiu que se lhe proibisse falar na Universidade de Hamilton. O ataque centrou­‑se num ensaio escrito depois do 11 de Setembro. Disse-se que o autor comparou as vítimas dos atentados com os nazis. O que na realidade Churchill argumenta no ensaio é que os atentados não se podem separar da política de terror que os Estados Unidos vêm seguindo no mundo e enfatiza as consequências do bloqueio ao Iraque. Numa passagem assemelha muitos dos que morreram nos atentados com os “bons alemães” que se mantiveram em silêncio no período nazi. Explica que muitos deles «faziam parte de um corpo tecnocrata no coração do império financeiro dos Estados Unidos – a poderosa máquina do lucro à qual a dimensão militar da política norte­‑americana tem estado sempre sujeita – e faziam­‑no voluntariamente e com conhecimento».

Com o método tradicional da caça às bruxas ampliaram­‑se sucessivamente os ataques contra Churchill tomando as suas ideias fora de contexto. Desde que se anunciou a sua palestra, vários lugares web de direita arremeteram contra o professor. Activou­‑se uma rede nacional denominada Estudantes pela Liberdade Académica, que se dedica precisamente ao contrário: hostilizar os professores progressistas, interromper as suas aulas, gravá-los e usar os meios mais conservadores para acusá­‑los do seu “ódio à América”.

Rapidamente a cadeia Fox News se somou à campanha contra o académico e activista, colocando-a na agenda nacional e logo o fez grande parte da máquina mediática. Instalado o ambiente de histeria, o governador de Nova York, George Pataki, denunciou publicamente a Universidade de Hamilton e disse que «há uma diferença entre a liberdade de falar e convidar um fanático que apoia o terrorismo». No dia seguinte, a universidade anunciou que não se lhe permitiria falar porque a ameaça de um ataque físico o tornava impossível. A chefe do projecto Kirkland, Nancy Rabinowitz, foi despedida. Por sua vez, o governador republicano do Colorado, Bill Owen, exigiu à universidade do estado que expulsasse Churchill, o que ocorreu no dia seguinte, do seu cargo de chefe de departamento, ainda que todavia não como professor por não se ter podido demonstrar que tivesse infringido a ética, como exige o regulamento. Mas abriu­‑se uma investigação obviamente dirigida a esse propósito.

Churchill está convidado também a falar a um de Março na Universidade de Winsconsin, onde o governador e a legislatura já assumiram a postura de exigir a sua proibição. Até agora a universidade mantém o convite e afirma que não dará marcha atrás. Talvez, mas o dedo na chaga pô­‑lo Maurice Isserman, professor de História da Universidade de Hamilton: «Dado o clima político prevalecente e o poder de instituições como a Fox News para levantar a histeria colectiva, isto não parará com Ward Churchill nem parará com a Universidade de Hamilton»

Cabrera,Ángel Guerra, "Outra vez a caça às bruxas", La jornada, 24 de fevereiro de 2005.

in. http://www.infoalternativa.pt.vu/.