A MORDER OS CALCANHARES DO PODER

quarta-feira, novembro 30, 2005

A exemplo das ditaduras/tiranias que criticam(e promovem)?


"EUA defendem detenção ilimitada de suspeitos de terrorismo:

A chefe da diplomacia norte-americana, Condoleezza Rice, defende numa entrevista hoje publicada a detenção por tempo ilimitado das pessoas suspeitas de prepararem atentados terroristas.

"Não podemos ficar à espera de que alguém cometa um crime (terrorista) para o prendermos" porque, se esse alguém cometer o seu crime, "milhares de inocentes morrerão", disse a secretária de Estado norte-americana ao diário USA Today."


Detenção de suspeitos por tempo ilimitado? Terão aprendido com Saddam? com Pinochet? com Suharto?

Isto sim,uma grande ideia- o exemplo acabado de um genuíno Estado de Direito.


terça-feira, novembro 29, 2005

Quer mesmo que eles voltem?




Com um grande agradecimento ao JUMENTO

Este sr. é um caso patológico

O escriba pró-Bush,Luís Delgado- quem mais poderia ser?- reflecte(???) acerca da alegada utilização de aviões por parte da C.I.A. para voos clandestinos de transporte de suspeitos de terrorismo-leia-se «suspeitos»- para sessões hardcore de TORTURA em prisões clandestinas espalhadas pelo mundo.

Um texto execrável, embora indispensável para um diagnóstico correcto da patologia de que padece o animal...

Nós, por cá, recomendamos-lhe uma ida urgente ao veterinário...



"À falta de assunto, alguns políticos, partidos e comentadores estão muito preocupados com a passagem de aviões da CIA por território nacional, e, em alguns casos, com a sua aterragem em aeroportos, supondo-se que para reabastecimento. Há fotografias, filmagens, e um sem-número de pormenores que dão à história um conteúdo interessante. É da época.Vamos por pontos alguém imagina, mesmo que por alto, quantos aviões circulam todos os dias, ou até horas, fretados por vários serviços secretos (e não estamos a falar de polícias políticas e quejandas...), por esse espaço fora, de um lado para o outro? Não devem ser poucos, e talvez a CIA faça como os serviços britânicos, franceses, alemães, israelitas e sei lá que mais. Alguém, por acaso, viu que esses aviões levam e trazem prisioneiros ou membros da Al-Qaeda ou de outros grupos de terroristas? E mesmo que os transportem, qual é o crime?A CIA, por enquanto, é uma agência de informações do mais democrático de todos os países, onde o escrutínio dos suas instituições, abertas e secretas, é feito diariamente, ao milímetro, por dezenas de grupos independentes, Congresso, comissões, e uma imprensa com um poder inigualável no mundo.É do conhecimento público que muitos dos prisioneiros de grupos terroristas são transportados para a base de Guantánamo, em Cuba. Diz-se, mas essa é uma questão diferente dos voos da CIA, que esses terroristas são torturados e maltratados, mas muitos congressistas da oposição já visitaram o local, e nada disso foi dado como certo.É conveniente, no entanto, que maiores investigações se façam nesse domínio. A questão que preocupa alguns partidos nacionais, contudo, é se alguns aviões fretados pela CIA aterram ou passam por território nacional. E então? Será que na nossa pequenez ainda temos a ilusão de pensar que não existe um vaivém permanente, com aviões civis ou militares, que transportam dezenas de coisas, incluindo agentes, e não prisioneiros, todos os dias do ano? Será que os portugueses pensam, ou acham, que não existem outros meios e rotas para levar e trazer? Haja pachorra."

Patético!!!

sábado, novembro 26, 2005

FOI VOCÊ QUE PEDIU UM AEROPORTO?

«Aquilo parecia uma reunião de vendas da Tupperware, em ponto gigantesco. Setecentos convidados escolhidos a dedo passaram um dia a ouvir o Governo e os consultores por ele contratados (e todos eles parte interessada no negócio) a defenderem os méritos do futuro aeroporto da Ota. Dos setecentos convidados, alguns eram institucionais, ligados ao assunto pela própria natureza das suas actividades, mas a grande maioria era composta por candidatos à compra do negócio: consultores, bancos, construtores, advogados de negócios públicos, enfim, a nata do regime, as "forças vivas" da nação.
Lá dentro, os setecentos magníficos estavam positivamente desvanecidos à vista de tantos e tantos milhões que o Governo socialista tinha para lhes dar. Havia dinheiro no ar, dinheiro nos gráficos apresentados, dinheiros nos "documentos de trabalho", dinheiro a rodos. O nosso dinheiro, os milhões dos nossos impostos. Mas ninguém nos convidou para entrar: é assim a democracia.
A primeira mentira que o Governo promove acerca da Ota é a de tentar convencer os tolos que o futuro Aeroporto Internacional Mais Perto de Lisboa não vai custar praticamente nada aos cofres públicos. Acredite quem quiser, o Governo jura que a "iniciativa privada" resolveu oferecer um novo aeroporto ao país. Assim mesmo, dado, sem que saia um tostão do Orçamento do Estado, fora os milhões já gastos nos estudos amigos. É falso e é bom que ninguém se deixe enganar logo à partida: parte do dinheiro virá da UE e podia ser gasto em qualquer coisa mais útil; parte virá do Estado directamente; parte poderá vir dos utilizadores da Portela, chamados a custear a Ota, a partir de 2007, através de uma taxa adicional cobrada em cada embarque; e a parte substancial virá ou da venda de património público (a ANA), ou da cedência de receitas do Estado a favor dos privados - as taxas aeroportuárias dos próximos 30 a 50 anos. É preciso imaginar que somos completamente estúpidos para não percebermos que abdicar de receitas ou vender património rentável é, a prazo, uma forma indirecta de realizar despesa, agravar o desequilíbrio das contas públicas e forçar o aumento de impostos para o compensar. E também uma forma de pagar bastante mais caro as obras públicas, para garantir o negócio à banca e aos investidores privados - como sucede com as Scut e com a Ponte Vasco da Gama. Se voltarem a ouvir dizer que a Ota vai sair de borla aos contribuintes, saibam que vos estão a tomar por estúpidos.
Resolvida esta questão prévia, o Governo e os seus cúmplices tinham mais três outras questões essenciais a explicar: que Lisboa vai precisar de muito maior capacidade aeroportuária num futuro médio; que, existindo o problema, a solução passa pela construção de um novo aeroporto de raiz e não pelo acrescento do actual ou pelo seu aproveitamento complementar com os adjacentes - Alverca ou Montijo; que esse novo aeroporto é viável, cómodo para os utentes e economicamente sustentável, situado a 50 quilómetros da cidade. Nada disso foi conseguido: o estudo apresentado pela Naer, mesmo para ignorantes na matéria como eu, é uma pífia peça de publicidade para tolinhos ou distraídos, capaz apenas de convencer os directamente interessados no negócio. É lastimável que se queira comprometer mais de 3000 milhões de euros de dinheiros públicos, que se planeie retirar a Lisboa um instrumento económico tão importante quanto o é o Aeroporto da Portela e tornar pior a vida de milhões de pessoas que o utilizam, com os argumentos constantes de um folheto que mais parece destinado a vender time-sharing no Algarve.
Por falta de espaço não posso agora analisar ponto por ponto esta lamentável peça propagandística, decerto paga a peso de ouro. Mas, para se ter uma ideia da leviandade com que ela foi apresentada, dou o exemplo dos 56.000 postos de trabalho que supostamente a Ota irá criar - 28.000 dos quais directos e mais 28.000 indirectos "na envolvente", sem que se explique minimamente de onde é que eles nascem e o que é isso da "envolvente". Ou o exemplo do tal shuttle, que, saído da Gare do Oriente todos os quinze minutos em cada sentido, ligará Lisboa à Ota em 20 a 25 minutos - sem que se explique onde é que existe a capacidade da Linha do Norte para absorver esse shuttle. Ou o exemplo do silêncio feito sobre o destino do Aeroporto Sá Carneiro, em cuja modernização se gastaram recentemente 300 milhões de euros, e que tem a morte anunciada com o aeroporto da Ota. Ou o facto de não se incluírem nos custos estimados nada que tenha a ver com as acessiblidades necessárias, quer ferroviárias (o shuttle mais o TGV), quer rodoviárias, incluindo a construção de uma nova auto-estrada e o prolongamento da A13. Ou ainda o facto de não haver qualquer estudo económico que se proponha quantificar os custos de utilização da Ota, no que respeita a horas de trabalho perdidas nas deslocações de e para o futuro aeroporto, o acréscimo brutal de consumo de combustível, o aumento da sinistralidade rodoviária, o aumento dos custos de exploração da TAP, das demais companhias aéreas, das empresas sediadas no aeroporto, das agências de viagem e turismo, das actividades hoteleiras, etc., etc.
Tudo foi feito, não para convencer os portugueses e os contribuintes da necessidade imperiosa da Ota, mas sim para convencer o grande dinheiro das vantagens desta oportunidade única de negócio. Foi feito ao contrário: os que ficaram à porta deveriam ter sido os primeiros a ser convidados, e só depois se chamavam os setecentos. Eu não tenho, e julgo que ninguém poderá ter, a pretensão de ter certezas absolutas sobre isto: não sei se a Ota se virá a revelar uma decisão visionária ou antes um imenso e trágico desperdício. Mas o que sinto em todo este processo é que a decisão já estava tomada desde o início e, tal como sucedeu com a regionalização - outra das soluções mágicas dos socialistas - o Governo se acha competente para tomar decisões que comprometem drasticamente o nosso dinheiro e o nosso futuro, sem se preocupar em explicar e convencer os que têm dúvidas. Por isso é que toda esta questão da Ota cheira mal à distância: cheira a voluntarismo político ao "estilo João Cravinho", que tanto dinheiro custou e continua a custar ao país, e a troca de favores com a clientela empresarial partidária, a que costumam chamar "iniciativa privada".
Para esse peditório já demos. Já demos demais, já demos tudo o que tínhamos para dar. O país está cheio de fortunas acumuladas com negócios feitos com o Estado e pagos com o dinheiro dos impostos de quem trabalha, em investimentos cuja utilidade pública foi nula ou pior ainda - desde os estádios do Euro até aos hospitais de exploração privada. Seria bom que quem manda compreendesse que já basta.»

TAVARES, Miguel de Sousa, "Foi você que pediu um aeroporto?", Jornal Público,nº5723,25 de Novembro de 2005,p.9.

quarta-feira, novembro 23, 2005

A MINORIA PRÓSPERA E A MULTIDÃO INQUIETA XVI

Métodos inovadores de tortura «Made in USA»

"EUA: CIA inventa nova definição para «tortura»:

Jornal menciona algumas técnicas de interrogatório como abanar ou bater nos prisioneiros de forma a causar-lhes medo e dor, ou obrigar o prisioneiro a manter-se de pé, algemado, com os pés agrilhoados, durante 40 horas

As técnicas de interrogatório da CIA em centros de detenção secretos espalhados pelo mundo contradizem a garantia dada pelo director da Agência de que a tortura não é usada, escreve hoje o Washington Post.
«Director para a tortura» é o título de um artigo do jornal em que se acusa a CIA de ter inventado uma nova definição para a palavra «tortura», de modo a negar que submete os prisioneiros a maus-tratos.


O diário norte-americano cita o director da CIA, Porter J.Goss, que, esta semana, em entrevista ao jornal USA Today, garantiu que a «Agência não tortura».
«Usamos capacidades legais para recolher informações vitais, e fazemo-lo numa variedade de formas inovadoras e únicas, todas elas legais e nenhuma das quais é tortura», disse o director da CIA.
Porter Goss não descreveu qualquer das «inovadoras» técnicas de interrogatório e a CIA não permitiu que as prisões secretas fossem visitadas pela Cruz Vermelha Internacional, ou por qualquer outra organização, refere o Washington Post.
«Mas algumas pessoas que trabalham para Goss forneceram à estação de televisão norte-americana ABC News uma lista de 'técnicas avançadas de interrogatório', por considerarem que o público necessitava de saber qual a orientação escolhida pela Agência», assinala o jornal.
Graças a essa lista - adianta - é possível comparar as palavras de Goss com a realidade.
«As primeiras três técnicas relatadas à ABC envolvem abanar ou bater nos prisioneiros de forma a causar-lhes medo e dor. A quarta consiste em obrigar o prisioneiro a manter-se de pé, algemado, com os pés agrilhoados, durante 40 horas», descreve o Post.
«Segue-se - segundo o jornal - a cela fria: os prisioneiros ficam nus numa cela arrefecida e são periodicamente molhados com água fria».
O Washington Post menciona ainda a técnica da «tábua». Segundo a informação fornecida à ABC, o prisioneiro é atado a uma tábua inclinada, com os pés erguidos acima da cabeça.
«O rosto do prisioneiro - lê-se - é então envolto em celofane, sobre o qual é vertida água. Isto provoca o pânico no prisioneiro que sente que se está a afogar, apelando quase de imediato para o fim da tortura».
Segundo o jornal, a ABC, citando as suas fontes, indicou que agentes da CIA que se submeteram a esta prática «aguentaram uma média de 14 segundos antes de cederem».
«Não serão estas técnicas 'tortura', como garante Goss?», interroga o Washington Post.


«De facto, vários destes métodos foram utilizados em regimes repressivos do mundo e condenados pelo Departamento de Estado norte- americano no seu relatório anual de Direitos Humanos», lembra o jornal.
Na opinião do Post, ao insistir em que estas práticas não são métodos de tortura, Goss introduz um paradoxo. «Se um piloto norte- americano for capturado no Médio Oriente, depois espancado, detido nu numa cela fria e sujeito a afogamento simulado, será que Goss dirá que ele não foi torturado? Serão estas técnicas 'legais'»?, questiona.
Em 1994, o Senado norte-americano ratificou a Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Punições Desumanas e Degradantes e, ao fazê-lo, definiu como «cruel, desumana ou degradante» qualquer prática que possa violar a quinta, oitava ou décima quarta emendas da Constituição dos Estados Unidos.
No entanto, segundo o Post, a administração recorre a uma lacuna na lei e argumenta que, dado a Constituição não se aplicar a estrangeiros fora dos Estados Unidos, a CIA pode usar estes métodos com prisioneiros estrangeiros detidos em território que não seja norte- americano.
Poucos peritos em leis, fora da administração, concordam que esta lacuna legal exista, observa o jornal."

terça-feira, novembro 22, 2005

OTA e OTÁRIOS.

"Governo apresenta aeroporto da Ota:

Sócrates promete criar 56 mil postos de trabalho com nova infra-estrutura.

(...)O novo aeroporto deverá custar 3,6 mil milhões de euros, mas o projecto prevê que metade do dinheiro necessário à construção seja obtida com recurso ao crédito bancário. A nova infra-estrutura deverá estar pronta dentro de dez anos."



COMENTÁRIO:

a) No que concerne à promessa de criação de 56 mil postos de trabalho,esta deve ser entendida na linha daquela outra feita durante a campanha eleitoral que garantia a criação de 150 mil postos de trabalho, que como podemos constatar se está a realizar com esplêndido êxito.

b) Se metade do custo deste projecto ( 1,8 mil milhões de euros), provirá do recurso ao crédito bancário, fácil será concluir para quem esta obra constituirá um excelente negócio.



DICIONÁRIO ALTERNATIVO, via LETRA MINÚSCULA


OTÁRIO - indivíduo que defende, com ardor mas sem argumentos, a construção do aeroporto da ota.

Curioso conceito de «solidariedade social»!



«Solidariedade Social»? Saberá o sr. ministro que este é um bem essencial? Enfim, destes senhores já nada nos poderá surpreender...

segunda-feira, novembro 21, 2005

A Tortura? Aonde? Na China?

"Não saber, não perguntar. É desta maneira que o mundo "livre" tem optado por reagir às notícias sobre as práticas de tortura autorizada pela administração de Washington para o combate ao terrorismo.
A "guerra suja contra o terrorismo" – como lhe chama o El Pais, que nesta análise acaba por estar mais próximo da imprensa americana do que da "light" imprensa europeia – coloca os Estados Unidos fora do direito internacional que emergiu da segunda guerra mundial sem que, aparentemente, trema qualquer nervo aliado. Para George Bush, o direito internacional é matéria de exportação e a Europa, contente, convive com a "aliança".
Na "suja" prisão da baía de Guantánamo, a ONU foi, na sexta-feira e mais uma vez, impedida de entrar. Os Estados Unidos recusaram que qualquer dos inspectores viessem a ter contacto directo com os prisioneiros – o que, obviamente, tornava inútil a missão das Nações Unidas. Para Washington, a guerra é a guerra e a ONU não tem que ter voto na matéria. A China, onde os inspectores das Nações Unidas se deslocam a partir de 3 de Dezembro, aceitou essa condição básica que os Estados Unidos recusaram.
Quando George Bush decidiu que os presumíveis terroristas não podiam estar protegidos pela convenção de Genebra – em nome do valor mais alto da segurança americana – abriu o caminho para toda a espécie de iniquidades. As técnicas de interrogatório de Guantánamo, Abu Grahib, as prisões secretas em países estrangeiros (alguns europeus) foram uma decorrência da guerra suja, tolerada pelos aliados europeus.
Alguns americanos – mais do que os europeus, alertava recentemente em entrevista ao Público a filósofa americana Susan Neiman – combatem a tortura promovida pela administração americana. O senador republicano John McCain, que fez aprovar no senado americano uma proibição do uso da tortura (ameaçada desde já com o veto do presidente, que não quer restrições ao poder de torturar) é, neste momento, o principal rosto dos direitos humanos nos Estados Unidos.
Na Newsweek, McCain – um veterano da guerra do Vietname, que esteve prisioneiro em Hanói durante cinco anos, onde foi vítima de tortura – afirma que os Estados Unidos não deveriam torturar ou tratar de forma desumana os terroristas capturados, o que, segundo o senador, prejudica o esforço de guerra. Diz mais McCain: «Segundo a minha experiência, as torturas a prisioneiros frequentemente produzem má informação para os serviços secretos», porque «sob tortura uma pessoa dirá qualquer coisa que o seu torturador queira ouvir, seja ou não falsa, se considera que as suas palavras o livrarão do tormento».
Mas George Bush vai, ao que tudo indica, vetar a emenda de John McCain. Bush justifica que a lei McCain limita o seu poder enquanto comandante em chefe das tropas dos Estados Unidos. Limita o seu poder de "proteger os cidadãos dos Estados Unidos e impedir novos ataques terroristas". Limita o poder da guerra suja. Limita o totalitarismo e as armas a que recorreram os totalitarismos de todos os tempos. Limita a barbárie."


LOPES, Ana Sá, "A Tortura? Aonde? Na China?", Jornal Público, 20 de Novembro de 2005, p.11.

quarta-feira, novembro 16, 2005

Cínico!

«Viera da Silva diz que «aumento do desemprego é normal»


O ministro do Trabalho e da Solidariedade Social garantiu hoje que os centros de emprego vão fazer um esforço de aproximação às empresas, até ao final do ano, para ajudar a combater o desemprego.


«Não é o Estado que cria postos de trabalho, mas existem 86 Centros de Emprego em todo o país que têm que estar mais próximos das empresas e dos desempregados», sublinhou aos jornalistas, no decurso de uma reunião com dirigentes dos centros de emprego.

O ministro salientou que o combate mais eficaz ao desemprego é feito através do crescimento económico e que a expectativa actual é de que os sinais de retoma se intensifiquem em 2006.


«É evidente que estes dados nos deixam preocupados», afirmou Vieira da Silva, salientando, no entanto, que «é normal um aumento do desemprego nesta altura do ano, sendo que o emprego se mantém estável».

«O emprego manteve-se estável», acrescentou o ministro, referindo que «não houve foi criação suficiente de emprego para fazer face aos que perderam» os postos de trabalho.

Uma das razões para a perda de emprego ligou-se às reestruturações de várias empresas, disse ainda Vieira da Silva.



Ah, sim? É normal?
-Só se fôr na sua perspectiva: a de quem não sofre com esse tipo de problemas e não está em risco de vir a sofrer!

Então se não é o Estado que cria postos de trabalho, por que razão o sr. Sócrates prometeu a criação de 150.000 empregos durante a campanha eleitoral?

E se a a culpa, desta situação se deve, como diz esta personagem, às reeestruturações de várias empresas, não é o Governo quem precisamente lhes dá cobertura e dia após dia reduz a protecção social aos desempregados?

E este sr. é mesmo o quê? Ministro do Trabalho e Solidariedade Social? TENHA VERGONHA E DEMITA-SE!!!

Julgam-nos burros e com memória curta? Vão-se catar mentirosos intrujões!

Bater no fundo.

"Desemprego atinge 7,7%, máximo de mais de sete anos:


A taxa de desemprego em Portugal atingiu 7,7% do total da população activa no terceiro trimestre de 2005, em máximo de mais de sete anos, segundo indica o Instituto Nacional de Estatística esta quarta-feira.

No final do trimestre analisado, encontravam-se desempregados 429,9 mil indivíduos, refere a nota divulgada pelo INE.

Face ao trimestre homólogo, o aumento superior a 14%, colocando a taxa de actividade nos 52%, o que equivale a quase metade da população activa está no desemprego. Por regiões, Lisboa e o Alentejo mostram as taxas mais elevadas do País, com valores iguais ou superiores a 9%."



"Este valor é superior ao que foi registado no trimestre anterior, em 0,5 pontos percentuais, e ao observado no trimestre homólogo de 2004, em 0,9 pontos percentuais. No 3º trimestre de 2005, encontravam-se desempregados 429,9 mil indivíduos, refere a nota divulgada pelo INE.
Face ao trimestre homólogo, o aumento superior a 14%, colocando a taxa de actividade nos 52%, o que equivale a quase metade da população activa está no desemprego. Por regiões, Lisboa e o Alentejo mostram as taxas mais elevadas do País, com valores iguais ou superiores a 9%.

Por género, a taxa de actividade dos homens foi de 58,0%, e entre as mulheres situou-se em 47,6% no 3º trimestre de 2005, refere o INE.

O acréscimo trimestral na taxa de actividade resultou essencialmente do aumento observado na população activa (28,6 mil indivíduos), o qual, por sua vez, decorreu do acréscimo da população desempregada (30,6 mil indivíduos), e da diminuição da população empregada em cerca de 2,0 mil indivíduos."



Depois, srs. políticos, admirem-se do dia em que tenham revoltas nas ruas...

terça-feira, novembro 15, 2005

A MINORIA PRÓSPERA E A MULTIDÃO INQUIETA XV

PRIVATIZAM-SE OS LUCROS...


"Lucros do Banif crescem 83,7% nos primeiros nove meses:

Os lucros do Banif atingiram os 20,003 milhões de euros até Setembro deste ano o que representa um crescimento de 83,7% face ao período homólogo, divulgou o banco em comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários"




SOCIALIZAM-SE AS PERDAS...


"Crise leva 20 mil portugueses a trabalhar nas obras em Espanha"


"Pensão mínima sobe 6,70 euros:

(...)Isto significa que o actual valor de 216,79 euros passará, já a partir de 1 de Dezembro, para os 223,49 euros, o equivalente a mais 6,70 euros mensais. Neste escalão concentram-se 473 630 pensionistas."




"Saúde- Governo vai actualizar taxas moderadoras:

O Governo vai actualizar as taxas moderadoras em função do custo de vida e penalizar os utentes que utilizem os serviços de urgência sem que tal se justifique, anunciou hoje no Parlamento o ministro da Saúde.

(...)Questionado pelo deputado comunista Bernardino Soares sobre o aumento previsto de 9,1 por cento de verbas provenientes das taxas moderadoras, o ministro afirmou que este não é um aumento "do outro mundo".

Contudo, o governante disse que, em relação a um possível aumento das taxas moderadoras, o que está previsto é uma "actualização em função do custo de vida".


AH POIS... O CUSTO DE VIDA...

Luís Delgado: o Evangelizador Autoritário

O inefável Luís Delgado, brindou-nos ontem no DN, com pérolas de elevada estirpe, numa crónica intitulada “A força de Fátima “, que não posso deixar de reproduzir por revelar o génio do autor. Diz então o beato Delgado:


“São impressionantes, para um católico, mas igualmente para qualquer outro cidadão de outra religião, ou ateu, ou simplesmente desatento, as imagens de fé que levaram, no sábado, centenas de milhares de pessoas a acompanhar a imagem de Nossa Senhora de Fátima pelas ruas de Lisboa.

Não é vulgar, nem comum, em país algum, que uma procissão, numa capital despovoada, ao final da tarde, com um tempo pouco agradável, junte tantos fiéis, homens da Igreja, católicos serenos ou afastados das igrejas, e dos rituais dominicais, para seguir com fé e evidente crença a manifestação que deu lugar à consagração da cidade a Nossa Senhora. E as imagens mostraram pessoas de todas as idades, jovens e idosos, classes distintas, raças diferentes, mas todos unidos pela mesma devoção. É bom que a Igreja, e as suas imagens, saiam dos seus redutos e locais de culto para se misturarem com os cidadãos comuns, anónimos, e que pela magnitude evidenciada, não se reproduz, de nenhuma forma, no que se vê, diariamente ou aos domingos, nas missas rezadas nas dezenas de igrejas da capital. Foi inédito, grandioso, elevado e regenerador, particularmente num momento do País e dos portugueses em que nada dá esperança, em que o futuro é uma incógnita e em que as dificuldades se avolumam. É nisto que a religião católica, como outras, noutras partes do mundo, se eleva e transforma as pessoas. Nossa Senhora de Fátima tem uma força popular explicável, e que todos os anos se renova no seu santuário, mas que desta vez desceu à capital e produziu o milagre de juntar mais fiéis do que, eventualmente, alguma vez se concentraram em Fátima. Portugal é um país católico, mas tímido nessa demonstração, no seu dia-a-dia, mas que aparece em momentos excepcionais e quando a grandeza da ocasião chama por si. No sábado, Lisboa foi um santuário improvisado, repleto, mostrando que tem uma fé inabalável na Igreja Católica Romana e na Mãe de Cristo. Calem-se, por um momento, os que achavam o contrário, e que no seu pessimismo agnóstico e militante tentavam reduzir a Igreja a um bastião ultrapassado e sem futuro. Lisboa católica provou estar viva e empenhada e com uma fé inabalável.”


Confesso, que quase me vieram as lágrimas aos olhos!

Já hoje, eis que Delgado, esquecendo este seu lado apaziguador e, a propósito dos acontecimentos ocorridos nas últimas semanas em França, afirma o seguinte:

“(…)Se há lição que os nossos países devem aprender com a França, é que num caso destes deve-se agir rapidamente, sem contemplações, e usando, dentro da legalidade, todas as forças de segurança disponíveis.”



Fantástico, só falta afirmar: «Que volte a Santa Inquisição e se queimem todos os infiéis!».

QUE NOJO !!!

"Patrões divergem sobre aumento avançado pelo Governo:


As diferentes confederações representantes do patronato divergem na análise que fazem do aumento de 3 por cento do Salário Mínimo anunciado pelo Governo. Enquanto CIP e Confederação do Turismo são contra o valor, as Confederações da Agricultura e Comércio aplaudem a proposta do Executivo.


A Confederação da Indústria Portuguesa (CIP) manifesta-se contra o aumento de 3 por cento lançando o aviso de que algumas empresas vão ser obrigadas a fechar portas.

Francisco Vanzeller, presidente da CIP, considera que «o valor total do aumento não é muito grande para resolver o problema da pobreza em Portugal e, para as empresas, poderá ser importante e algumas delas poderão fechar».


Esta opinião é partilhada pela Confederação do Turismo que considera que há muitas empresas que não podem suportar este aumento do Salário Mínimo.

«As perspectivas para o ano em curso são de diminuição ao nível da receita e este cenário de crescimento de 3 por cento preocupa-nos porque pode ser tomado como um índice de referencia do ponto de vista das negociações e, não é que as empresas não queiram pagar, simplesmente não podem pagar», avançou Atílio Forte.

Opinião diferente tem a Confederação da Agricultura que considera «correcto» o aumento avançado pelo Governo.

Para João Machado este aumento significa «o retomar de algum poder de compra e não tem um grande impacto muito grande na economia do pais» pelo reduzido número de trabalhadores que recebem o ordenado."



SIMPLESMENTE ASQUEROSO PARA MERECER COMENTÁRIOS!!!

segunda-feira, novembro 14, 2005

37 cêntimos por dia? Tenha vergonha Sr. Sócrates!!!

"Governo propõe aumento de 3% para salário mínimo nacional"




"José Sócrates afirmou esta segunda-feira, à saída da reunião de concertação social, que o aumento de 3% do Salário Mínimo Nacional (SMN) em 2006 traduz a maior subida dos últimos anos, preservando a produtividade da economia e a estabilidade das finanças públicas. «Este aumento está de acordo com as nossas preocupações com as finanças públicas, com a competitividade da economia e com os trabalhadores», justificou o primeiro-ministro.


Sócrates sublinhou ainda que várias prestações sociais estão indexadas ao SMN, justificando que o aumento não podia ser superior, de modo a não pôr em causa a estabilidade financeira do país. «Fomos tão longe quanto podíamos», garantiu.

Com o aumento hoje anunciado, o salário mínimo passa dos actuais 374,70 euros mensais para 385,90 euros no próximo ano, ou seja, mais 11,20 euros."





ãh?


Onde é que o Sr. Sócrates almoça e janta?

37 cêntimos por dia? Onde faz as compras para a casa?
Onde paga as suas contas de água, luz, gás etc etc?
Nem para um mísero café diário dá, e ainda tem cara para dizer que «Este aumento está de acordo com as nossas preocupações com as finanças públicas, com a competitividade da economia e com os trabalhadores.»??? e «Fomos tão longe quanto podíamos», ???


Tenha vergonha e deixe de gozar com as pessoas!!! E proclama-se o quê? Socialista???

sexta-feira, novembro 11, 2005

Mass Mérdia descobrem Vacina para a Gripe das Aves






Como assinalado pel'O JUMENTO, parece que já não há razões para preocupação relativamente à terrível pandemia da gripe dos periquitos.

Os MASS MÉRDIA acabam de descobrir o antídoto para a mesma e, afinal encontrava-se disponível nos subúrbios de Paris e de outras cidades francesas, dando não pelo nome de TAMIFLU mas sim de COCKTAIL MOLOTOV.

Recomendação

Este é mais um recente Blog que merece ser visistado,quer pela perspicácia revelada pelo autor, quer pela qualidade dos textos aí presentes. Recomendo-vos, pois, uma visitinha até ao Blog
À VARA LARGA. A não perder!

quarta-feira, novembro 09, 2005

A MINORIA PRÓSPERA E A MULTIDÃO INQUIETA XIV

PRIVATIZAM-SE OS LUCROS...



"Seguros Tranquilidade lucra mais 34,1% :

Os lucros conjuntos das três seguradoras Tranquilidade, ES Seguros e Tranquilidade Vida cresceram 129,6% até Setembro, totalizando 62 milhões de euros, anunciou ontem a holding ESFG. A Tranquilidade (não Vida) registou um aumento no resultado líquido de 34,1% nos primeiros nove meses do ano, para 18,5 milhões de euros, refere o comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Os prémios brutos de seguro directo ascenderam a 276,6 milhões de euros, mais 10,6% que em Setembro de 2004. A companhia aumentou a sua quota de mercado para 8,5%, contra 7,9% em igual mês de 2004.



"Lucro da CGD sobe 52,5% até Setembro:

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) lucrou 422,2 milhões de euros nos primeiros nove meses deste ano, o que representa um incremento de 52,2%, face aos 276,9 milhões de euros registados no período homólogo de 2004, anunciou a entidade financeira esta quarta-feira. "



SOCIALIZAM-SE AS PERDAS...



"Sócrates garante aumento do salário mínimo superior a 2,3%:

O primeiro-ministro, José Sócrates, assegurou hoje, durante o debate do Orçamento do Estado (OE) para 2006, no Parlamento, que no próximo ano haverá um aumento do Salário Mínimo Nacional superior a 2,3%."

Um exemplo de eficiência extrema para suspeitos de branqueamento de capitais e fuga ao fisco

A impunidade dos amos do mundo





"O Exército dos EUA usou armas químicas contra civis, entre as quais uma variante de napalm, durante a ofensiva de Novembro de 2004 contra a cidade iraquiana de Fallujah, segundo reportagem emitida ontem pela televisão italiana RAI. O autor do trabalho "Fallujah, o massacre escondido", Sigfrido Rannuci, entrevista soldados norte-americanos, habitantes da cidade e jornalistas, que confirmam a utilização de fósforo branco e de MK77 (variante do napalm usado na guerra do Vietname) na tomada da cidade bastião da resistência iraquiana à ocupação. "Em Fallujah, vi corpos de mulheres e crianças queimados. O fósforo branco rebenta em forma de nuvem e quem estiver num raio de 150 metros não escapa", diz na reportagem Jeff Englehart, antigo "marine" e veterano do Iraque que participou naquela ofensiva.

Os EUA confirmaram, em Janeiro deste ano, a utilização de fósforo branco em Fallujah, mas apenas para iluminar zonas inimigas e nunca contra combatentes. Na altura, refere a reportagem, o Pentágono sublinhou que o fósforo branco não é uma arma ilegal, mas o uso de armas incendiárias contra civis foi proibido pela Convenção de Genebra em 1980. Todavia, os EUA não assinaram o protocolo da convenção, de acordo com um representante da ONU em Nova Iorque, citado pela Reuters.

Segundo Jeff Englehart, um projéctil de fósforo branco, que permite iluminar um quilómetro quadrado durante dois minutos, tem "um efeito devastador sobre a carne" "Queima os corpos, dissolve-os até aos ossos e deixa as roupas intactas". Trata-se de uma arma para ser utilizada no campo de batalha, mas não numa localidade habitada, diz a reportagem, referindo também que os EUA nunca admitiram vítimas civis naquela operação, mas apenas "1600 combatentes inimigos assassinados" e 51 soldados norte-americanos mortos.

Rannuci entrevista também Mohamed Tarek al-Deraiji, de 33 anos, director do Centro de Estudos para os Direitos Humanos e a Democracia, de Fallujah, que denunciou o uso de fósforo branco criticando como, de maneira ambígua, os técnicos incluem esta arma no grupo das incendiárias e não do das químicas. A reportagem recolhe ainda declarações da jornalista italiana Giuliana Sgrena, sequestrada em Março passado no Iraque, que diz ter recolhido testemunhos de refugiados sunitas segundo os quais foram usados fósforo branco e MK77 em Fallujah. A reportagem da RAI foi publicada no endereço www.rainews24.rai.it/ran24/inchiesta/"


P.S. Terá sido esta, presumívelmente entre outras,uma das razões para a tentativa de assassinato de Giuliana Sgrena, por partes das tropas do Império aquando da sua libertação?


Entretanto as negociatas, assim vão:



Lucros suspeitos

Os EUA devem reembolsar o Iraque em mais de 208 milhões de dólares, que foram sobre-facturados e mal documentados pela Halliburton, empresa de que o vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, havia sido administrador e que foi contratada pela Casa Branca para trabalhos de reconstrução, segundo auditoria da ONU.

sexta-feira, novembro 04, 2005

A propósito dos tumultos em Paris II

"O ÓDIO".

"Em 1995 o realizador de cinema Mathieu Kassovitz contou-nos a história de Said, Vinz e Hubert, três jovens de uma periferia parisiense que acorda numa manhã em sobressalto devido às torturas sofridas por um jovem de 16 anos num interrogatório policial. A história acaba mal. Agora, morreram dois jovens electrocutados depois de uma acção policial e a pradaria urbana incendiou-se.

Esse belo e trágico filme intitulado O Ódio é uma crónica da permanente guerra civil travada por jovens desintegrados, desempregados e empurrados para a criminalidade com as forças policiais que podia ter sido feita dez anos antes. Ele é apenas mais uma abordagem criativa desta tragédia francesa que antecipa aquilo que um dia pode propagar-se a outros países.

O que está a passar-se em Paris já antes se passou. Paris é um permanente regresso ao passado nesta matéria da violência urbana e também não é por acaso que a França é um dos países europeus onde a extrema-direita fascista maior expressão institucional tem. Há duas décadas que os governos franceses de esquerda e de direita não conseguem dar respostas consequentes na integração das vagas de emigrantes que entraram no país. Há duas décadas que a política francesa oscila entre a defesa e a recusa, ambas radicais, de um modelo social utilizado como arma de arremesso nas barricadas ideológicas de cada tribo. Há duas décadas que a política francesa não sabe como enfrentar o crescimento explosivo do desemprego, da criminalidade, do gigantismo imobiliário em bairros dormitórios, horríveis e labirínticos, que cresceram nas periferias das grandes cidades. Há duas décadas que jovens marginalizados pela crise económica e por uma sociedade em crise de valores estão em guerra com forças policiais abandonadas à sua própria sorte. Uns são a mesma carne do canhão, açulados como cães ao ódio recíproco por um poder político irresponsável. Poder esse que tem, agora, na cara do ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, expoente de um populismo light mas profundamente pirómano a quem alguns espíritos mais entusiasmados com a suposta coragem das suas decisões já antecipam uma dimensão de grande estadista, a maior evidência.

A única resposta que Sarkozy consegue dar é a da repressão pura. Nada conseguirá, como nunca nenhum antes dele conseguiu. Nada se consegue neste campo estigmatizando o protesto e instrumentalizando a polícia. Nada se consegue desinvestindo na integração social ou entregando-o apenas à velha lógica misericordiosa da piedade católica. O que se está a passar em França é uma grande lição para todos, em particular para Portugal, onde as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto caminham a passos largos para uma guetização que poucos querem ver."


DÂMASO,Eduardo,
"O ÓDIO", Diário de Notícias , 4 de Novembro de 2005.

A propósito dos tumultos em Paris

"Violência sem tréguas em Paris:

Pala oitava noite consecutiva, os subúrbios da capital francesa foram palco de vários distúrbios provocados por grupos de jovens. A polícia até diz que esta noite foi calma, mas o saldo é de cerca de 400 viaturas incendiadas e 27 autocarros destruídos."



"Nas últimas semanas, o ministro do Interior francês afirmou que iria "limpar" os bairros problemáticos da "escumalha" que os habita, classificando os jovens dos subúrbios como "malfeitores"."



" O mesmo sistema de poder que fabrica a pobreza é o que declara guerra sem quartel aos desesperados que gera. Há um século, George Vacher de Lapouge exigia mais guilhotinas para purificar a raça. Este pensador francês, que acreditava que todos os génios são alemães, estava convencido de que só a guilhotina podia corrigir os erros da selecção natural e deter a alarmante proliferação dos ineptos e dos criminosos. «O bom bandido é um bandido morto», dizem, agora, aqueles que exigem uma terapia social de mão pesada.

A sociedade tem o direito de matar, em legítima defesa da saúde pública, perante a ameaça dos subúrbios empestados de vagabundos e toxicodependentes.

Os problemas sociais reduziram-se a problemas policiais e existe um clamor crescente em favor da pena de morte. É uma pena justa, diz-se, que permite poupar em cadeias, tem um efeito intimidatório e resolve o problema da reincidência suprimindo o possível reincidente. Morrendo, aprende-se a lição.

(…) O poder corta e volta a cortar a erva daninha, mas não pode atacar a raiz sem atentar contra a própria vida. Condena-se o criminoso, mas não a máquina que o fabrica, tal como se condena o toxicodependente mas não o modo de vida que cria a necessidade de consolo químico e a sua ilusão de fuga.

Assim, liberta-se de responsabilidade a ordem social que lança cada vez mais gente para as ruas e para os presídios e que gera cada vez mais desesperança e desespero. A lei é como uma teia de aranha, feita para apanhar moscas e outros pequenos insectos, e não para impedir a passagem dos bichos grandes.

Os delinquentes pobres são os vilões do filme, os delinquentes ricos escrevem o guião e dirigem os actores.”

GALEANO, Eduardo, De pernas para o ar – A escola do mundo às avessas”, Lisboa, Editorial Caminho, 2002,p. 105-106.


Foto: AP/François Mori

"O Mestre dos silêncios"

Convido-vos a ler este texto arrasador de Miguel de Sousa Tavares que constitui não só um pertinente apelo à memória, mas também um valioso contributo para a desmistificação da imagem de “Homem Providencial” de Cavaco, vergonhosamente «refeita» e branqueda pelos órgão de comunicação ao longo dos últimos dez anos. ( O texto é um pouco longo, mas garanto-vos que valer a pena lê-lo).



“Mário Soares – como ele próprio não se cansa de recordar, a título de prova de vida – passou estes dez anos sem resguardo algum: fez uma fundação, foi deputado europeu, publicou dez livros(!), viajou, fez conferências, palestras, presidiu a comissões, desfilou contra a Guerra do Iraque.
“Puf!” – suspira Cavaco Silva, com desdém, ao relembrar as andanças do seu rival – “um político profissional no seu pior!”
Ele, Cavaco, fez o inverso: tratou de acabar a sua vida académica tranquilamente, publicou um livro, após sair do governo e onde inventariou as “reformas de uma década”, que jura ter feito, mas que, curiosamente, são hoje reconhecidas como as mais urgentes ainda por fazer, e reservou-se para ocasionais aparições públicas, sempre devidamente publicitadas pelos inúmeros homens-de-mão que deixou semeados pela imprensa e sempre recebidas pela pátria como verdadeiros textos de referência, senão mesmo de culto.
Soares falou tanto nestes dez anos que não nos lembramos de coisa alguma marcante que tenha dito. Cavaco falou tão pouco que, para a história, ficou apenas aquela frase dos tempos de governação de Santana Lopes de que “uma boa moeda deve afastar a má”. Foi um pensamento profundo e corajoso: antes dele, ninguém ainda tinha pensado numa coisa dessas e ninguém ainda se tinha atrevido a questionar os méritos governativos de Santana Lopes e do seu extraordinário séquito. Disse também outra coisa ( hoje convenientemente apagada dos registos dos seus fiéis), estava a sua amiga Manuela Ferreira Leite a tentar controlar o despesismo público e os défices suicidários do Estado: disse que o que era preciso eram políticas keynesianas, de “contraciclo” e acrescidas despesas públicas.
Há dez anos que todos sabíamos que Cavaco voltaria a candidatar-se à Presidência da República, assim que Jorge Sampaio desimpedisse o caminho – porque, tirando o inevitável holocausto de 95, contra o mesmo Sampaio, e a que não tinha maneira de se furtar, ele sempre foi homem dos combates com vitória assegurada à partida. Este seu novo e ridículo tabu com as presidenciais, este patético arrastamento da notícia formal de candidatura, quando já tudo estava pensado ao pormenor e ele ainda fingia estar em reflexão, só serviu para demonstrar duas coisas: uma, que Cavaco conhece e usa todos os truques da política, que afecta desdenhar; outro, que entre os seus truques preferidos está a gestão do silêncio, até ao limite do possível.
Não há lugar mais político do que a Presidência da República. É um lugar destinado exclusivamente a fazer política, não a governar ou a fazer obra. É por isso que a candidatura de Cavaco Silva gera tanto desconforto, tanta desconfiança e tanta insegurança em tanta gente: porque quem se candidata ao cargo se afirma, pessoal e estruturalmente, contra a própria natureza dele e, por conseguinte, nos deixa tentar adivinhar que agenda secreta será a sua, uma vez na Presidência.
Sempre foi assim, também, nos seus dez anos de governo. Cavaco Silva sempre desprezou as ideias políticas, o debate, a ideologia, a agenda, a definição de um horizonte ou de um projecto para Portugal. Quando questionado, respondia com os 1400 quilómetros de estradas novas, os 210.000 carros comprados, as 600.000 criancinhas nascidas durante os seus anos de esplendor. Nunca aceitou debates, nunca perdeu tempo com o Parlamento, nunca se submeteu a entrevistas difíceis. Quando precisava de cuidar da imagem ou da mensagem, reservava-se para entrevistas exclusivas na televisão pública com o seu conselheiro de imagem ou com a sua adida de imprensa. Assim criou o mito do homem infalível, demasiado ocupado a resolver os problemas do país para se desgastar em explicações avulsas ou na inútil encenação democrática.
Para essas tarefas menores, Cavaco contou sempre com um fiel exército de “guardas da revolução”, que hoje reemergem outra vez à superfície, tal como, diga-se em abono da verdade, reemergem os cortesãos de Soares. Uma das especialidades de Cavaco Silva foi sempre a de dar homens por si. Se Cavaco nunca teve uma ideologia nem sentiu necessidade de a ter, o cavaquismo teve-a.
Para quem já esqueceu ou finge ter esquecido, convém relembrar o que era a substância intelectual e política do cavaquismo. O mesmo Cavaco Silva que hoje se afirma contra a partidarização do aparelho de Estado, foi o primeiro-ministro que inaugurou a moda recente de distribuir todos os cargos públicos ( excepto os das “forças de bloqueio”, que se lamentava de não conseguir controlar) pelos fiéis do partido e do chefe, enquanto ele, como escreveu o seu fiel António Pinto Leite, afectava dedicar-se unicamente ao “culto solitário e obsessivo do interesse nacional”. Enquanto o próprio Cavaco Silva se vangloriava de ter “devolvido Portugal ao mundo” e se gabava de ter feito de Portugal um “oásis” de progresso no meio da decadência do mundo, os seus fiéis ocupavam, sem pudor nem temor, todos e cada um dos cargos do estado, das empresas públicas, das sinecuras regionais. Na RTP, totalmente governamentalizada, Roberto Leal, vestido de minhoca branca, pulava e saltava, cantando o refrão “nós já temos Cavaco e maioria” – antes mesmo das eleições.
E o ministro Fernando Nogueira, então “número dois” e delfim do cavaquismo, explicava candidamente que não havia ocupação alguma do aparelho de Estado, já que le não conhecia 2um génio, uma pessoa invulgarmente dotada, que não esteja ocupada”. Ele, por exemplo, estava apenas “muito empenhado em dar a sua contribuição individual para um projecto colectivo protagonizado pelo Professor Cavaco Silva…numa unidade ideológica que causa inveja aos adversários”. Porque tudo se resumia a essa tarefa patriótica da unidade ideológica e serviço ao chefe, como ensinava aos deputados do PSD o líder parlamentar da maioria de então, Montalvão Machado: “ Uma das prioridades dos deputados sociais-democratas deve ser a promoção da imagem de Cavaco Silva.” Eram tempos, recordo, em que o primeiro-ministro, Cavaco Silva, abria o telejornal da RTP, então estação única e pública, para declarar: “ Estou em condições de dizer aos portugueses que o preço da gasolina vai baixar quatro escudos por litro.” E eram tempos, também, em que o mesmo primeiro-ministro propunha uma Lei do Segredo de Estado, felizmente abandonada, em que os aumentos de preços dos combustíveis, dos impostos das taxas de juro e “outros rendimentos do Estado”, bem como a contracção de empréstimos por parte da República ou das Regiões Autónomas, passariam a constituir matéria abrangida pelo Segredo de Estado. Assim ia a democracia nos gloriosos tempos de então.
E é por isso que, lembrando-me de coisas de então, agora que, segundo as sondagens, Cavaco Silva se prepara para ser meu Presidente da República nos próximos dez anos, eu acho que chegou a altura de lhe exigir o fim do silêncio conveniente. Gostaria de saber o que pensa ele de Portugal: da justiça, da educação, da desordem territorial, da reforma da administração pública, da regionalização, do aborto, da OTA e do TGV. E o que pensa do mundo: do Iraque, do combate ao terrorismo, das relações com os regimes corruptos de África , da imigração, da adesão da Turquia à Europa, da deslocalização de empresas, da futura guerra contra o Irão. Numa palavra, gostaria de saber que ideias tem ele, o “não político”, sobre a política. Será pedir de mais a quem quer ser Presidente da República?”


TAVARES, Miguel de Sousa, “O Mestre dos silêncios”, Jornal Público, nº5702, 4 de Novembro de 2005, p.6.

O triunfo dos porcos

quinta-feira, novembro 03, 2005

O controle da Internet

"Depois da primeira Cimeira Mundial da Sociedade da Informação que se celebrou em Genebra em dezembro de 2003 [1], cujo tema central tinha sido “a fractura digital”, a pedido da ONU e organizada pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), Tunes acolherá de 16 a 18 de novembro a segunda cimeira mundial com uma preocupação central: como instaurar um controle mais democrático na Internet?

A rede de Internet é uma invenção norte-americana da época da Guerra Fria. O Pentágono procurava então elaborar um sistema de comunicação indestrutível, que pudesse resistir a um ataque atómico, e que permitisse aos responsáveis políticos e militares que sobrevivessem retomar o contacto entre eles para lançar o contra­‑ataque. Ainda estudante da Universidade de Los Angeles, Vinton Cerf imaginou e implementou com uma equipa de investigadores financiados com fundos públicos os protocolos e ferramentas de um novo modo revolucionário de comunicação. Mas ainda estava reservado somente a uma pequena minoria de universitários, militares e iniciados.

Mais tarde, em 1989, os físicos Tim Berners-Lee e Robert Cailliau, investigadores do Centro Europeu para a Investigação Nuclear (CERN) de Genebra, puseram em funcionamento um sistema de hipertexto e inventaram a World Wide Web, que favoreceria a difusão das informações e o acesso do grande público à Internet, assim como a sua formidável e fulgurante expansão.

Actualmente e desde 1988, a rede mundial é administrada pela Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (ICANN), um organismo de direito privado sem fins de lucro com sede em Los Angeles, submetido à lei californiana e colocado sob o controle do Departamento de Comércio dos Estados Unidos. A ICANN é a grande controladora da rede. Baseia-se num dispositivo técnico constituído por 13 poderosos computadores, denominados “servidores raízes”, instalados nos Estados Unidos (quatro na California e seis perto de Washington), na Europa (Estocolmo e Londres) e no Japão (Tóquiio).

A principal função da ICANN é coordenar os nomes de domínio (Domain Name System, DNS) que ajudam os usuários a navegar pela Internet. Cada computador conectado à Internet possui um endereço único chamado “endereço IP” (de Protocolo Internet). Inicialmente, estes endereços IP são séries de números difíceis de memorizar, mas o DNS permite utilizar em lugar de números letras e palavras mais familiares (o “nome de domínio”). Por exemplo, em lugar de escrever uma série de números, escreve-se
http://www.monde-diplomatique.es/. O DNS converte o nome de domínio na série de números que corresponde ao endereço IP, o que permite ao seu computador conectar-se com o lugar procurado. O DNS permite também o bom funcionamento do correio electrónico. Tudo isso à escala planetária e a uma velocidade ultra rápida.

De acordo com os seus próprios termos, a missão da ICANN é «preservar a estabilidade operativa da Internet, promover a concorrência, garantir uma representação global das comunicações na Internet, e elaborar uma política correspondente à sua missão de acordo com um procedimento consensual» [2].

Mas, desde há algum tempo, já não há consenso. O domínio dos Estados Unidos sobre a rede mundial vê­‑se cada vez mais impugnado. No passado mês de setembro em Genebra, por motivo de uma negociação prévia entre os Estados Unidos e a União Europeia, antes da cimeira de Tunes, os 25 Estados da União foram unânimes em reclamar uma reforma da governança da Internet aproveitando o vencimento em setembro de 2006 do contrato que vincula a ICANN com o Ministério do Comércio dos Estados Unidos. A reunião saldou­‑se com um fracasso, dado que Washington se negou a toda a mudança.

Por exemplo, o Brasil, a China, a Índia e o Irão encontram­‑se nas mesmas posições da Europa frente a Washington, mas nem sempre pelas mesmas razões. Alguns ameaçam inclusive com criar o seu próprio organismo nacional de gestão da Rede, o que levaria a uma fragmentação desastrosa da Internet.

O desacordo tem uma dimensão geopolítica. Num mundo cada vez mais globalizado, onde a comunicação se transformou em matéria prima estratégica e onde explode a economia do imaterial, as redes de comunicação cumprem uma função fundamental. O controle da Internet outorga ao poder que o exerce uma vantagem estratégica decisiva. Tal como, no século XIX, o controle das vias de navegação planetárias tinha permitido à Inglaterra dominar o mundo.

A hegemonia dos Estados Unidos sobre a Internet confere em teoria aos Estados Unidos o poder de limitar o acesso a todos os lugares da Rede em qualquer país. Pode bloquear todos os envios de mensagens electrónicas do planeta. Até ao momento nunca o fez. Mas tem a possibilidade de fazê-lo. E esta simples eventualidade é motivo de extrema inquietude para muitos países [3]. De modo que chegou o momento de reclamar que a ICANN deixe de depender de Washington e se torne por fim num organismo independente sob a supervisão das Nações Unidas."

RAMONET, Ignacio, "O controle da Internet", Le Monde Diplomatique,Novembro de 2005.

Este artigo encontra-se também em
Informação Alternativa
_____
[1] Ignacio Ramonet,
A nova ordem Internet, Le Monde diplomatique, Janeiro de 2004.
[2]
http://www.icann.org/ e http://www.icannwatch.org/
[3] The Guardian, Londres, 11 de outubro de 2005.

Criminosos de guerra



"Um antigo colaborador do ex-secretário de Estado norte-americano Colin Powell acusa o gabinete do vice-presidente norte-americano, Dick Cheney, de ter emitido as directivas que conduziram aos abusos cometidos na prisão iraquiana de Abu Ghraib.
Em declarações à rádio pública americana NPR, o coronel Laurence Wilkerson, antigo chefe de gabinete de Powell, revelou ter detectado a origem de um memorando e de directivas autorizando o uso de tortura, enviados ao Departamento de Defesa por colaboradores de Dick Cheney.


A confirmar-se a existência destes documentos, isso representaria uma clara contradição com uma directiva emitida pelo Presidente George W. Bush, em 2002, ordenando ao Exército norte-americano para cumprir a Convenção de Genebra sobre a proibição do uso de tortura.

“Há um rasto visível que vai da vice-presidência aos comandantes no terreno, passando pelo secretário da Defesa, para autorizar a tortura a fim de obter informações sobre o terreno”, afirmou Wilkerson.



O coronel explicou que foi encarregado pelo próprio Powell de descobrir a forma como a tortura foi aceite como técnica de interrogatório aceitável pelas forças militares americanas, logo depois de terem sido noticiados os primeiros casos de abusos cometidos pelas tropas dos EUA destacadas no estrangeiro.

Segundo este ex-responsável, o novo chefe de gabinete de Dick Cheney, David Addington, até aqui seu conselheiro jurídico, foi “um advogado convicto” da autorização de recurso à violência nos interrogatórios.

Na semana passada, o “The Washington Post” noticiou que Cheney fez diligências junto do Senado para conseguir que a CIA seja isenta, durante operações antiterroristas no estrangeiro, de respeitar um projecto de lei que proíbe o uso da tortura.

O chefe de gabinete de Bush acusou ainda os colaboradores do vice-presidente de minar o trabalho do Conselho Nacional de Segurança e criticou ainda o antigo director da CIA, George Tenet, “por não ter tido a coragem” de informar Cheney das dúvidas existentes sobre a existência de armas de destruição maciça no Iraque – o argumento usado pela Administração para lançar a guerra que viria a derrubar Saddam Hussein."


A MINORIA PRÓSPERA E A MULTIDÃO INQUIETA XIII